DIY//DO IT YOURSELF!

Marcelo Tramontano, Luciana Roça, Mayara Dias de Souza, Maria Julia Martins

Marcelo Tramontano é arquiteto, Doutor e Livre-docente em Arquitetura e Urbanismo. Professor Associado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, coordena o Nomads.usp e é editor-chefe da revista V!RUS.

Luciana Santos Roça é bacharel em Imagem e Som e pesquisadora do Nomads.usp. Pesquisa a utilização de interfaces sonoras em espaços urbanos, procurando integrar os campos disciplinares de Estudos de Som e Arquitetura.

Mayara Dias de Souza é arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora do Nomads.usp.

Maria Julia Martins é Pedagoga, Mestra em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte, e pesquisadora do Nomads.usp. Investiga o campo das artes corporais contemporâneas e suas relações com o espaço público urbano.


Como citar esse texto: TRAMONTANO, M.; ROÇA, L.; SOUZA, M. D.; MARTINS, M. J. Do it yourself!. Editorial. V!RUS, São Carlos, n. 10, dezembro 2014. Disponível em: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=1&item=1&lang=pt>. Acesso em: 22 Nov. 2024.

É com grande prazer que apresentamos aos nossos leitores a décima edição da V!RUS, a revista do Nomads.usp. Somos muito gratos aos 239 autores e autoras que, nessas dez edições, aceitaram debater os temas que sugerimos, através de seus trabalhos aqui publicados. A presente edição é, assim, uma comemoração da V!RUS e do Nomads.usp juntamente com seus colegas, colaboradores, amigos e parceiros, e, em especial, com os leitores de nossa publicação. Os artigos que agora oferecemos à leitura estão plenos de reflexões instigantes, de boas notícias e de ideias estimulantes para, acreditamos, se fazer do mundo um lugar mais justo e solidário.

De fato, o tema dessa décima edição, >DIY//DO IT YOURSELF!+, acabou por nos trazer um conjunto de testemunhos e leituras de práticas que transpiram otimismo. Um otimismo necessário e urgente, nesses tempos em que intolerâncias, cisões e conservadorismo têm varrido vastas regiões do planeta. Os textos, áudios, imagens e vídeos desses artigos ecoam, em grande medida, pautas, posições e conscientizações formuladas nas ruas de tantas grandes cidades do mundo, nos últimos anos. Insistem, felizmente, na ideia de que, entre os cidadãos e seus desejos, necessidades e vontades, nem sempre precisa ou deve haver a mediação do Estado.

Publicamos, nessa edição, uma entrevista, dez artigos selecionados em revisão cega, sendo dois na seção Projetos, além de sete trabalhos convidados na seção Tapete e um artigo do Nomads.usp. Todos se somam na busca de contemplar as múltiplas perspectivas que o tema oferece, e são apresentados em português ou espanhol e inglês.

O Do It Yourself é fundamentado teoricamente a partir da noção de Improviso [Bruno Massara Rocha], do conceito de Gambiarra [Hernani Dimantas], e, ainda, do ponto de vista da cibersemiótica em relação a processos digitais de projetos de arquitetura [Gilfranco Alves e Anja Pratschke]. Uma atitude Do It Yourself também constitui referência de dois estudos urbanos sobre planejamento e gestão colaborativa: um, da perspectiva do urbanismo open source e da cibernética [Ana Isabel Junho de Sá] e, o outro, de uma perspectiva histórica, examinando a consolidação desses conceitos, nas últimas décadas, potencializada pela mundialização dos meios digitais [Adriana Goñi Mazzitelli]. Ainda no âmbito das leituras urbanas, o DIY é abordado a partir de usos de espaços públicos eventualmente não previstos em seu projeto [Debora Allemand, Eduardo Rocha, Rafaela de Pinho].

Um conjunto de trabalhos enriquece a reflexão sobre intervenções e ações junto à população, em cidades do Brasil e do mundo. Sempre buscando explorar, exercitar e estimular práticas Do it yourself, tais intervenções e ações se utilizam de metodologias variadas. Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos e Romullo Baratto Fontenellerepensam as relações entre dinheiro, tempo e espaço público, auxiliadas por dispositivos físicos e digitais. Bernardo Gutiérrez relata uma experiência de uso do conceito colaborativo wiki na requalificação do espaço de uma praça e das relações sociais que ele abriga.

No formato de workshops, Edison Uriel Rodríguez Cabeza e Mônica Moura refletem sobre a cultura maker através da produção de mobiliário e da fabricação digital, enquanto Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos e José Ripper Kós escrevem sobre os hackerspaces e o ethos hacker. Manifestações de cunho artístico são tratadas por Carole Brandon, explorando o uso de QR code, Tatiana Reshetnikova e Petrov Nicolay Konstantinovich, dispondo objetos inusitados no quotidiano urbano, Elisiana Frizzoni Candian, focalizando a interação do público com obras de midia art, e Cadós Sanchez Bandeira, analisando obras gráficas dispostas na rua como lambes. Dois projetos bastante poéticos visam o resgate pessoal de subjetividades e sua expressão no espaço público: um, de Camila Echeverría, que ressignifica lembranças de antigos programas de rádio, e o outro, de Gabriele Valente, que convida passantes a compartilhar publicamente seus sonhos.

O adensamento de ações quotidianas baseado na colaboração entre universidade e comunidade é abordado em dois trabalhos: Luciana Bosco e Silva, Liz Fagundes Oliveira Valente, Victor Brandão Motta e Alice Zarantonelli Ildefonso propõem a potencialização das relações humanas no universo das feiras livres, e Camila Matos Fontenele, Luna Esmeraldo Gama Lyra e Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva debruçam-se sobre a relação entre designers e comunidade, no âmbito da intervenção em uma favela.

Finalmente, uma reflexão sobre o trabalho de preparo da cena onde o Do it yourself pode vir a efetivar-se, em escalas macro e micro, na região amazônica, é abordado na entrevista com Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas, do IPAM, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.

Chamaremos a atenção dos leitores para as imagens de fundo do sumário e das seções dessa edição da revista, produzidas a partir da foto de um mosaico de azulejos do Parque Guell, em Barcelona, Espanha. Trata-se de um mosaico reconstruído com cacos de um mosaico árabe, cujos desenhos, como se sabe, obedecem a um extremo rigor geométrico. A reconstrução em Barcelona incluiu a ação de um artesão que, dispondo de partes do mosaico original, produziu um novo arranjo segundo uma lógica pessoal. A fotografia desse rearranjo foi retrabalhada por nós, fragmentando-a e recombinando digitalmente seus fragmentos de variadas maneiras, segundo lógicas nossas, em um processo similar àquele do artesão do Parque Guell. Para nós, essas imagens, que também reproduzimos abaixo, podem, portanto, ser lidas como hipertextos produzidos a muitas mãos, em tempos não simultâneos, em processos analógicos e digitais, resultando em um remix que representa fotograficamente uma atitude Do it yourself.

Esperamos que a V!RUS 10 contribua, em seus limites, para inspirar reflexões e práticas socialmente transformadoras.

Imagens de fundo do Sumário e das seções da revista

Fig. 1: Imagem original do mosaico em Barcelona. Foto: M. Tramontano.

Fig. 2: Remix #1, fundo da seção Sumário. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 3: Remix #2, fundo da seção Editorial. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 4: Remix #3, fundo da seção Entrevista. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 5: Remix #4, fundo da seção Artigos submetidos. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 6: Remix #5, fundo da seção Tapete. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 7: Remix #6, fundo da seção Artigo Nomads. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 8: Remix #7, fundo da seção Projetos. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 9: Remix #8, fundo da seção Expediente. Designer: C. Nojimoto.

DIY//DO IT YOURSELF!

Marcelo Tramontano, Luciana Roça, Mayara Dias de Souza, Maria Julia Martins

Marcelo Tramontano is Architect, Doctor and Livre-Docente in Architecture and Urbanism. He is Associate Professor at the Institute of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo, Brazil, where he coordinates Nomads.usp, and is the V!RUS journal Editor-in-chief.

Luciana Santos Roça holds a BA degree in Audiovisual and a Master degree in Architecture and Urbanism. She is a researcher at Nomads.usp, studying the use of sound digital interfaces in urban spaces, seeking to integrate Sound Studies and Architecture disciplinary fields.

Mayara Dias de Souza is Architect, Doctor in Architecture and Urbanism and researcher at Nomads.usp.

Maria Julia Martins is Pedagogue, MSc in Education, Knowledge, Language and Art and researcher at Nomads.usp. She investigates the field of contemporary arts body and its relationship with the urban public space.


How to quote this text: Tramontano, M.; Roça, L.; Souza, M. D.; Martins, M. J.. Do it yourself!. Editorial, V!RUS, [online] n. 10. [online] Available at: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=1&item=1&lang=en>. [Accessed: 22 November 2024].

It is with great pleasure that we present to our readers the tenth issue of V! RUS, the Nomads.usp journal. We are very grateful to all 239 authors who, in these ten issues, agreed to discuss the topics we suggested, through their papers published here. This edition is thus a celebration of V! RUS and Nomads.usp along with their colleagues, collaborators, friends and partners, and in particular with the readers of our publication. The articles that we now offer to reading are full of thought-provoking reflections, good news and stimulating ideas to make the world, we believe, a more just and supportive place.

Indeed, the theme of this tenth issue, >DIY//DO IT YOURSELF!+, eventually brought us a set of testimonies and readings of practices that exude optimism. A necessary and urgent optimism, in times when intolerance, scissions and conservatism are sweeping large areas of the planet. The text, audio, images and videos of these articles largely resonate agendas, positions and awarenesses formulated in the streets of many large cities in the world in recent years. They insist, fortunately, on the idea that, between citizens and their desires, needs and wants, the State mediation not always must be present.

We publish in this issue an interview, ten articles chosen on blind review, two of them in the Projects section, seven invited works in the Carpet section and one Nomads.usp article. They all add up in the search for contemplating the multiple perspectives offered by the theme and are presented in Portuguese or Spanish and English.

The Do It Yourself is theoretically grounded upon the notion of Improvisation [Bruno Massara Rocha], the concept of Gambiarra [Hernani Dimantas] and also from a cybersemiotics point of view in relation to digital processes of architectural projects [Gilfranco Alves and Anja Pratschke]. A Do It Yourself attitude is also reference for two urban studies on collaborative planning and management: one, from the perspective of open source urbanism and cybernetics [Ana Isabel Junho de Sá], and the other, from a historical perspective, examining the consolidation of these concepts, in recent decades, intensified by the globalization of digital media [Adriana Goñi Mazzitelli]. Still within the scope of urban readings, DIY is approached from public spaces uses possibly unanticipated in their design [Debora Allemand, Eduardo Rocha and Rafaela de Pinho].

A group of works enriches the reflection on interventions and actions with the population in cities in Brazil and the world. Always trying to explore, exercise and stimulate Do it yourself practices, such interventions and actions make use of various methodologies. Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos e Romullo Baratto Fontenelle rethink the relations between money, time and public space, aided by physical and digital devices. Bernardo Gutiérrez reports a experience of using the collaborative concept of wiki in the requalification of a square and the social relations that it houses.

On workshops format, Edison Uriel Rodríguez Cabeza and Monica Moura reflect on the maker culture through the production of furniture and digital fabrication, while Diego Fagundes da Silva, Erica Azevedo da Costa e Mattos and Jose Ripper Kos write about hackerspaces and the hacker ethos. Artistic events are handled by Carole Brandon, exploring the use of QR code, Tatiana Reshetnikova and Nicolay Petrov Konstantinovich, featuring unusual objects in urban daily life, Elisiana Frizzoni Candian, focusing on the interaction of the audience with works of media art, and Cados Sanchez Bandeira, analyzing graphic works disposed on the street as Lambes. Two very poetic projects aim at personal rescue of subjectivities and their expression in public space: one, by Camila Echeverria, which reframes old radio broadcasts memories, and the other, by Gabriele Valente, which invites passersby people to publicly share their dreams. The densification of daily activities based on the collaboration between university and community is addressed in two works: Luciana Bosco e Silva, Liz Fagundes Oliveira Valente, Victor Brandão Motta and Alice Zarantonelli Ildefonso propose the enhancement of human relations within the universe of free markets, and Camila Matos Fontenele, Luna Esmeraldo Gama Lyra and Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva are working on the relationship between designers and community, in the scope of an intervention in a slum.

Finally, a glance at the work of preparing the scene where the Do it yourself is likely to become effective, both in macro and micro scales in the Brazilian Amazon region, is discussed in the interview with Osvaldo Stella, director of the Climate Changes Program of IPAM, the Amazon Institute for Environmental Research.

We call readers' attention to the background images in the summary and the sections of this journal issue, produced from the photo of a mosaic of tiles taken at Park Guell in Barcelona, Spain. This is a mosaic reconstructed with pieces of an Arab mosaic whose drawings, as we know, follow an extreme geometric accuracy. The reconstruction in Barcelona included the action of a craftsman who, only having parts of the original mosaic, produced a new arrangement according to a personal logic. The photo of this rearrangement has been reworked by us, as we fragmented it and digitally recombined its fragments in a number of ways, according to our logic, in a process similar to that of the Park Guell craftsman. For us, these images, which are also reproduced below, can therefore be read as hypertexts produced by many hands, in not simultaneous times, following analog and digital processes, resulting in a remix that represents photographically an attitude Do it yourself.

We expect the V!RUS 10 will contribute, within its limits, to inspire reflections and socially transformative practices.

Background images of the Summary and the journal sections

Fig. 1: Original Barcelona mosaic picture. Photo: M. Tramontano.

Fig. 2: Remix #1, Summary section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 3: Remix #2, Editorial section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 4: Remix #3, Interview section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 5: Remix #4, Submmited Articles section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 6: Remix #5, Carpet section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 7: Remix #6, Nomads Article section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 8: Remix #7, Projects section background. Designer: C. Nojimoto.

Fig. 9: Remix #8, Credits section background. Designer: C. Nojimoto.