Sementes amazônicas de um DIY sustentável

Osvaldo Stella

Osvaldo Stella é engenheiro mecânico, Mestre em Energia e Doutor em Ecologia e Recursos Naturais. Em 2004, foi co-fundador da ONG Iniciativa Verde, que iniciou o primeiro sistema de compensação de emissões de gases de efeito estufa através do reflorestamento de áreas degradas do Brasil. Em 2007, passou a integrar a equipe de Mudanças Climáticas do IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - como coordenador de projetos, e, hoje, é diretor do Programa de Mudanças Climáticas do Instituto.


Como citar esse texto: STELLA, O. Sementes amazônicas de um DIY sustentável. Entrevista. V!RUS, São Carlos, n. 10 [online], 2014. TRAMONTANO, M., ROÇA, L., MARTINS, M. J. S.. Disponível em: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=2&item=1&lang=pt>. Acesso em: 22 Nov. 2024.

"Ciência, educação e inovação para uma Amazônia ambientalmente saudável, economicamente próspera e socialmente justa". É com essa missão que o IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (http://ipam.org.br/), uma organização científica, não governamental e sem fins lucrativos vem, ao longo dos últimos vinte anos, implementando projetos e ações que buscam promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia, conjugando as esferas ambientais, sociais e econômicas.

Conversamos com Osvaldo Stella, diretor do Programa de Mudanças Climáticas do IPAM, que desenvolve ações visando à criação de modelos de desenvolvimento e produção baseados na manutenção da floresta em pé e na recuperação de áreas degradadas, acoplados a sistemas de pagamento por serviços ambientais. Queríamos entender como, à luz da experiência do IPAM, pode-se fazer a preparação da cena onde práticas Do It Yourself serão desenvolvidas, na Amazônia. Tanto na gestão de financiamentos, como na implementação de projetos e transferência de tecnologias para comunidades em situação de vulnerabilidade.

V!RUS 10: O tema dessa edição da V!RUS é Do It Yourself, abarcando um sentido de empoderamento de comunidades, populações, etc., por diversos atores sociais. Como você relacionaria o trabalho e as ações do IPAM com essa noção?

Osvaldo Stella: A missão do IPAM é, em suma, contribuir para reduzir o desmatamento na Amazônia através da promoção de um modelo de desenvolvimento que preserve a floresta e traga prosperidade aos habitantes da região. A perenidade dessa abordagem depende diretamente do empoderamento das populações locais.

O papel do Estado na região é fundamental mas é muito esparso. Assim, mesmo na implementação de politicas públicas, o envolvimento das populações locais tem que ser diferente do que estamos acostumados a ver em outras áreas do país. Lá, sem o envolvimento das pessoas, a coisa não anda mesmo.

V!10: Para conseguir esse envolvimento das comunidades, o pesquisador teria que ultrapassar a dimensão do conhecimento técnico e assumir também um viés de ativismo, de fomentador de ações culturais?

OS: Na região, nosso trabalho se divide entre pesquisa e extensionismo, isto é, pesquisa aplicada, implementando desde sistemas alternativos para georreferenciamento de lotes até sistemas de captação de água. O método científico, no entanto, está sempre por trás de nossas ações.

V!10: Como se dá essa implementação de sistemas? Quais são as ações do pesquisador?

OS: Primeiro, o problema é identificado. Por exemplo, famílias com as quais trabalhamos em alguns projetos têm que andar até 4 km para ter acesso à água potável. Depois, identificamos a solução: implementar sistemas de captação de água nos lotes, e, então, desenvolvemos e implementamos vários modelos diferentes, testamos e avaliamos todos eles e transferimos as tecnologias para a comunidade.

A transferência de conhecimento envolve várias ações. A primeira é identificar as alternativas com as quais os beneficiários têm mais afinidade e lhes permitem cumprir seus objetivos dentro de vários critérios de viabilidade. Em seguida, são elaboradas cartilhas que ensinam como a implementação, operação e manutenção dos sistemas em questão devem ser feitas. São, então, organizadas oficinas para a implementação de alguns sistemas e, em seguida, os próprios beneficiários os implementam.

V!10: Ao longo do tempo, ao observar os resultados que os projetos têm produzido, após a finalização da implementação e capacitação iniciais, o uso que as comunidades fazem dos sistemas implementados pelo IPAM tem correspondido ao que estava previsto inicialmente? A cultura local e as dinâmicas próprias das populações acabam alterando alguns usos?

OS: Depende do tipo de implementação. Os resultados de projetos que visam o atendimento de necessidades individuais e essenciais, como os sistemas de fornecimento de água, correspondem muito mais que os que visam necessidades coletivas. Isso está diretamente vinculado à capacidade de cooperativismo que, na maioria das regiões, é muito baixa.

Por exemplo, uma questão chave na agricultura familiar, na região, é a mecanização. Como as áreas de cultivo são pequenas, não é viável que cada família tenha um trator, e são raras as experiências onde um grupo de famílias recebe um trator e consegue se organizar para mantê-lo funcionando.

Em alguns lugares, a prefeitura assume o papel de emprestar o trator. Em outros, eles são alugados e, na maioria dos casos, ainda é feita a roça de toco, ou coiavara, tecnologia ancestral de corte e queima das árvores.1 Com a nova lei ambiental, que proíbe a queima, o esforço de reverter essa aversão ao cooperativismo é urgente.

Em muitos locais onde o associativismo se desenvolve, existe a influência de imigrantes europeus, principalmente germânicos. Isso não é uma regra. Nos assentamentos de várzea, as experiências de associativismo de sucesso são mais comuns, talvez pelo fato do tipo de produção exigir este comportamento. Isso não é uma questão especifica dos agricultores familiares da Amazônia: é algo histórico, característico do povo brasileiro, em geral. É possível, inclusive, identificar isso nas universidades, por exemplo.

V!10: Sim, certamente. Mas, dessa perspectiva, pode-se entender, então, que o pesquisador, enquanto indivíduo com outro background cultural, precisa aprender a lidar com a complexidade local da comunidade, seus valores, para, inclusive, atingir a meta de implementação de sistemas?

OS: Sim, sem dúvida nenhuma. É o casamento entre o saber tradicional, o conhecimento científico e a cultura local que compõe a base para qualquer experiência de sucesso.

V!10: Esse tripé é, segundo o diretor executivo do Instituto, Paulo Moutinho, a base da missão do IPAM: o social, o ambiental e o econômico. O que significaria, em última instância, conjugar essas três esferas em intervenções na Amazônia? Quais seriam as estratégias e as dificuldades para se efetivar essa conjugação nos projetos?

OS: O objetivo final para o tipo de trabalho que fazemos é que as experiências de sucesso influenciem a construção e implementação das políticas públicas. O que se pode notar, no entanto, é que o ambiente regulatório brasileiro não foi construído para promover o desenvolvimento sustentável. Assim, reformas tributárias e fiscais voltadas a dar mais viabilidade econômica a essas ações seriam muito bem-vindas.

V!10: Isso nos leva a uma outra reflexão que gostaríamos de fazer com você, sobre o financiamento, ou os financiadores dos projetos do Instituto. Vocês se situam, de certa forma, entre os órgãos estatais, que financiam, e as comunidades e suas necessidades, e nem sempre os interesses do Estado e das comunidades convergem. Como vocês lidam com isso na elaboração e implementação de projetos?

OS: Nossa atuação está voltada para suprir necessidades das comunidades dentro do contexto da nossa missão. Por exemplo, nós não construímos hidroelétricas, mas podemos ajudar as famílias que serão desalojadas pela construção. Como só implementamos projetos desenhados em parceria com as comunidades, onde há interesses conflituosos, não há projeto.

V!10: Sim, mas o Estado tem, pelo menos, três esferas - federal, estadual e municipal -, e pode ocorrer que um projeto financiado pelo governo federal tenha interesses distantes daqueles do governo estadual ou da prefeitura, por exemplo.

OS: Sim, muitas vezes os interesses são distantes mas não necessariamente conflituosos. Um projeto pode ser prioridade para uma esfera e não ser para outra.

V!10: E os financiadores internacionais? Quais seriam, em geral, os interesses deles em estabelecer parcerias com vocês? No site do Instituto, pode-se perceber que o perfil dos financiadores internacionais é bem variado.

OS: As fundações internacionais financiam todo tipo de ação filantrópica no mundo, educação, saúde, etc. e meio ambiente. Dentre elas, algumas estão focadas nas florestas tropicais. Por isso, anualmente aplicamos nossas propostas para os editais dessas fundações.

V!10: Uma vez implantado um projeto, espera-se uma cogestão entre o IPAM e a comunidade para garantir a sustentabilidade do projeto? Quando se encerra - ou não se encerra - a ação do IPAM?

OS: Depende do projeto. Em alguns casos, como o dos poços, a participação do IPAM se encerra quando o poço é entregue à família. Em outros casos, como no fortalecimento de co-gestão nos assentamentos, o processo é contínuo, fomentando a consolidação dos conselhos gestores e das associações.

V!10: Como funcionam os conselhos gestores? Que autonomia eles têm para tomadas de decisão?

OS: Existem vários tipos. Por exemplo, nas Reservas Extrativistas, as RESEX, os conselhos têm um papel institucional definido já no decreto de criação da reserva. Nos assentamentos, eles são criados, na maioria das vezes, como o embrião da organização social dentro do assentamento. Em geral, a partir desses conselhos, são criadas as associações, que podem evoluir para uma cooperativa. No nosso caso, se não existe uma associação em um assentamento onde vamos trabalhar, fomentamos a criação de um conselho para estabelecer um diálogo comunitário com aquele grupo.

V!10: O IPAM participa do conselho? Em que momento o IPAM se retira?

OS: O IPAM não participa do conselho. O IPAM dialoga com ele, ajuda, no início, a explicar a importância, como funciona, etc., para que ele evolua para uma associação apoiada na burocracia, na Constituição, etc..

V!10: Algum projeto foi replicado por iniciativa de algum conselho gestor? Ou seja, sem a participação do IPAM?

OS: A organização social, uma vez desenvolvida, serve de plataforma para diversas ações. Assim, é difícil precisar quantos e quais projetos foram implementados a partir de um núcleo desse tipo. No entanto, é possível afirmar que, quanto mais organizado estiver o grupo, maior a chance de acesso a projetos públicos e privados.

V!10: O contato do IPAM com as populações e comunidades locais também tem um sentido inverso, de alterar concepções e provocar reflexões nos pesquisadores?

OS: Com certeza, é sempre um caminho de mão dupla. Foi dessa relação que nasceu a atual forma de atuação do IPAM, que, além da pesquisa pura, tem forte componente de pesquisa aplicada e extencionismo.

V!10: Para finalizar, gostaríamos que você fizesse uma consideração mais geral. O trabalho do IPAM está focado no desenvolvimento de atividades e ações para a manutenção de florestas em pé, restauração de áreas florestais degradadas, pagamento por serviços ambientais e estruturação de mercados de carbono. Como isso se articula, em termos sustentáveis, na micro e na macro escala?

OS: Nosso trabalho busca promover a conexão entre a realidade de campo, no chão, as organizações locais, os governos municipais, estaduais, federal e a agenda internacional de mudanças climáticas. Temos, hoje, ações voltadas a todas essas esferas. Buscamos levar nossa experiência no chão para as negociações internacionais e trazer esses resultados de volta.

V!10: Em uma avaliação rápida, seria possível considerar que o conjunto dos projetos desenvolvidos, ao longo desses vinte anos de atuação do IPAM, se sustentou? Foram replicados espontaneamente? Consolidaram metodologias de auto-sustentabilidade e sustentabilidade ambiental?

OS: Sim, desde a esfera internacional, o conceito de REDD2 se baseou em um trabalho em parceria, envolvendo o IPAM, sobre reduções compensadas de emissões, até a implementação do CIDSX - Consórcio Municipal para Desenvolvimento Sustentável da Transamazônica e do Xingu.3

V!10: Você gostaria de acrescentar alguma coisa, ou destacar algo que não perguntamos?

OS: Creio que não, foi uma conversa muito boa.

V!10: Também curtimos, muito obrigado!

OS: Um grande abraço para vocês.

1 "O sistema [chamado de roça de toco] é baseado na derrubada e queima da vegetação, seguindo-se um período de cultivo e, após o declínio da fertilidade do solo, um período de pousio para restauração da fertilidade." (Para mais informações, ver Siminski, A. e Fantini, A. C. Roça-de-toco: uso de recursos florestais e dinâmica da paisagem rural no litoral de Santa Catarina, em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-84782007000300014&script=sci_arttext. Acesso em 3/11/2014.

2 REDD - Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - O conceito de REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), basicamente, parte da idéia de incluir na contabilidade das emissões de gases de efeito estufa aquelas que são evitadas pela redução do desmatamento e a degradação florestal. Nasceu de uma parceria entre pesquisadores brasileiros e americanos, que originou uma proposta conhecida como “Redução Compensada de Emissões” (Santilli et al, 2000), que foi apresentada durante a COP-9, em Milão, Itália (2003), por IPAM e parceiros. Segundo este conceito, os países em desenvolvimento detentores de florestas tropicais, que conseguissem promover reduções das suas emissões nacionais oriundas de desmatamento receberiam compensação financeira internacional correspondente às emissões evitadas. O conceito de redução compensada tornou-se a base da discussão de REDD nos anos seguintes. (http://www.ipam.org.br/saiba-mais/O-que-e-e-como-surgiu-o-REDD-/3).

Amazonian seeds of a sustainable DIY

Osvaldo Stella

Osvaldo Stella is a mechanical engineer, MSc in Energy and PhD in Ecology and Natural Resources. In 2004, he co-founded the NGO Green Initiative, which began the first greenhouse gas emissions compensation system through reforestation of degraded areas in Brazil. In 2007, he joined the staff of Climate Change at IPAM - Institute for Environmental Research of the Amazon - as project coordinator, and today is director of the Climate Changes Program of the Institute.


How to quote this text: STELLA, O. Amazonian seeds of a sustainable DIY. TRAMONTANO, M., ROÇA, L., MARTINS, M. J. S.. Translated from Portuguese by Marcelo Tramontano. V!RUS, [online] n. 10, 2014. [online] Available at: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=2&item=1&lang=en>. [Accessed: 22 November 2024].

"Science, education and innovation for an environmentally wholesome, economically prosperous and socially fair Amazonia." With this mission IPAM, the Amazon Institute for Environmental Research (http://ipam.org.br/), a scientific, non-governmental and non-profit institution has been, over the last twenty years, has been implementing projects and actions that seek to promote sustainable development in Amazonia, combining environmental, social and economic spheres.

We talked to Osvaldo Stella, director of IPAM's Climate Changes Program, which implements projects aimed at creating development and production models based on maintaining the forest standing and the recovery of degraded areas, coupled to payment systems for environmental services. By the example of IPAM, we wanted to understand how can be prepared the scene where practices Do It Yourself may be developed in the Amazonian region. Both in funding management, as in the implementation of projects and technology transfer for communities in vulnerable situations.

V!RUS 10: The theme of this issue of the V!RUS journal is "Do It Yourself", embracing a sense of empowerment of communities, populations, etc., by different social actors. How do you relate IPAM's work and actions with this notion?

Osvaldo Stella: The mission of IPAM is, in short, contribute to reduce deforestation in Amazonia by promoting a development model that preserves the forest and brings prosperity to the inhabitants of the region. The continuity of this approach depends directly on the empowerment of local populations.

The State's role in the region is crucial but it is very sparse. So even in the implementation of public policies, the involvement of local people must be different from what we are used to see in other areas of our country. There, without the engagement of people, things do not even work.

V!10: To achieve this community involvement, researchers must exceed the dimension of technical knowledge and also assume a certain activist attitude of cultural activities developer?

OS: In the region, our work is divided between research and extensionism, that is, applied research, since implementing alternative systems for georeferencing plots to water harvesting systems. The scientific method, however, is always behind our actions.

V!10: How is this implementation of systems undertaken? What actions must the researcher perform?

OS: Firstly, the problem is identified. For example, families with whom we work on some projects have to walk up to 4km to have access to clean water. Then we identify the solution: to implement water harvesting systems in the plots, and then we develop and implement several different models, test and evaluate all of them and transfer the technologies to the community.

Knowledge transfer involves various actions. The first one is to identify the alternatives with which beneficiaries have more affinity and enable them to meet their goals within several feasibility criteria. Then, primers are designed to teach how the implementation, operation and maintenance of these systems should be made. Workshops are then arranged to show how some systems may be implemented. Finally, the beneficiaries themselves implement them.

V!10: Over time, when observing the results that the projects have produced, after the completion of the initial deployment and training, the use that communities make of the systems implemented by IPAM has matched to what was originally intended? The local culture and inherent dynamics of populations end up by altering some uses?

OS: It depends on the implementation. The results of projects aiming the fulfillment of individual and essential needs, such as water supply systems, correspond much more than those designed to collective needs. This is directly linked to the cooperativism capacity that, in most regions, is very low.

For example, a key issue in family farming in the region is mechanization. As the growing areas are small, it is not feasible that every family has a tractor. There are few experiences where a group of families receives a tractor and can organize to keep it running.

In some places, the local government takes on the role of lending the tractor. In others places, they are hired and, in most cases, the slash-and-burn agriculture1, also known as coiavara, is still done. It is an ancient technology of cutting and burning of trees. With the new environmental law which prohibits burning, the effort to reverse this aversion to cooperativism is urgent.

In many places where the associativism develops, we see the influence of European immigrants, especially Germans. This is not a rule. In floodplain settlements, successful associativism experiences are more common, perhaps because the type of production requires this behavior. This is not a specific issue of Amazonian family farmers: it is something historical, characteristic of Brazilian people in general. It is possible even to identify it in universities, for example.

V!10: Yes, certainly. But from this perspective, one can understand that the researcher, as an individual with another cultural background, must learn how to deal with the complexity of the local community, its values, to even achieve the implementation of systems?

OS: Yes, with no doubt. The marriage of traditional wisdom, scientific knowledge and local culture forms the basis for any successful experience.

V!10: According to the executive director of the Institute, Paulo Moutinho, this tripod is the basis of IPAM's mission: social, environmental and economic. What would it mean, ultimately, to combine these three spheres in interventions in Amazonia? What would be the strategies and difficulties to accomplish this combination in the projects?

OS: The ultimate aim for the type of work we do is that successful experiences influence the construction and implementation of public policies. What can be noted, however, is that Brazilian regulatory framework was not built to promote sustainable development. Thus, tax and fiscal reforms aimed at giving more economic viability to such actions would be highly welcomed.

V!10: This leads us to another reflection that we would like to do with you on the financing, or funders of the Institute's projects. In a way, you are situated between State funder agencies and the communities in their needs, and not always State and communities interests converge. How do you deal with that when designing and implementing projects?

OS: Our work is directed to meet the needs of communities within the context of our mission. For example, we do not build hydroelectric plants but we can help families who will be displaced by the construction of hydroelectric plants. As we only implement projects designed in partnership with communities, where there are conflicting interests, there is no project.

V!10: Yes, but the State has at least three levels - federal, state and municipal - and it may happen that a project funded by the federal government has distant interests from state government or municipality, for example.

OS: Yes, sometimes interests are distant but not necessarily conflicting. A project can be a priority for one sphere and not for another.

V!10: And what about international funders? What are, in general, their interests in establishing partnerships with you? On the website of the Institute, one can see that the profile of international funders is quite varied.

OS: International foundations finance all sorts of philanthropy in the world - education, health, environment, and so on . Among them, some are focused on tropical forests. So annually we apply our proposals for public notices of these foundations.

V!10: Once deployed a project, a co-management between IPAM and the community is expected to ensure the sustainability of the project? When does the action of IPAM end - or it does not?

OS: It depends on the project. In some cases, such as the one of the wells, the participation of IPAM ends when the wells are released to the families. In other cases, as in the strengthening of co-management in the settlements, the process is continuous, fostering the consolidation of management boards and associations.

V!10: How do management boards work? How much autonomy do they have for decision making?

OS: There are several types. For example, in Extractivist Reserves, the RESEX, councils have an institutional role already defined in the reserve creation decree. In the settlements, they are created most of the time as the embryo of social organization within the settlement. In general, from these boards, associations are created, which can evolve into a cooperative. In our case, if there is no association in a settlement where we are going to work we encourage the creation of a management board to establish a dialogue with that group.

V!10: Does IPAM sit on the board? At what moment IPAM retires?

OS: IPAM is not a member of the board.. IPAM dialogues with the members, helps them, in the beginning, to explain the importance, how it works, etc., so that the board can evolve to an association supported by the bureaucracy, by laws, and so on.

V!10: Has any project been replicated at the initiative of some management board? That is, without the participation of IPAM?

OS: The social organization, once developed, is the platform for various actions. Thus, it is difficult to specify how many and which projects have been implemented from a core of this type. However, it is clear that the more organized the group is, the greater the chance of access to private and public projects.

V!10: The contact between IPAM and local populations and communities also has a reverse, changing conceptions and provoking reflections among researchers?

OS: Surely it is always a two-way street. From this relationship was born the current modus operandi of IPAM, which in addition to basic research, has a strong component of applied research and extension.

V!10: Finally, we would like you to do a more general consideration. The work of IPAM is focused on the development of activities and actions aimed at maintaining standing forests, restoring degraded forest areas, at the payment for environmental services and the structuring of carbon markets. How is it articulated, on a sustainable basis, within the micro and macro scale?

OS: Our work seeks to promote the connection among the reality in the field, on the ground, local organizations, municipal, state and federal governments, and the international climate changes agenda. Today, we have actions in all these levels. We seek to bring our experience on the ground to international negotiations and bring those results back.

V!10: In a quick evaluation, would it be possible to consider that most of the projects developed over these twenty years by IPAM were maintained? Were they spontaneously replicated? Have they consolidate methodologies of self-sustainability and environmental sustainability?

OS: Yes, from the international level, for exemple, the concept of REDD2 was based on a proposal for compensated emission reduction proposed by IPAM and partners on COP 8, to the implementation of CIDSX - Municipal Consortium for Sustainable Development of the Transamazonian road and Xingu.3

V!10: Would you like to add something, or highlight something that we do not ask?

OS: I do not think so, it was a really good conversation.

V!10: We also enjoyed, thanks!

OS: Best wishes for you guys!

1 "The system [called stump fields] is based on the clearing and burning of vegetation, followed by a period of cultivation and, after the decline of soil fertility a fallow period for fertility restoration." (For further information, see Siminski, A. and Fantini, A. C. Roça-de-toco: uso de recursos florestais e dinâmica da paisagem rural no litoral de Santa Catarina. (Portuguese only), at http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-84782007000300014&script=sci_arttext. Accessed 11/3/2014.

2 REDD - Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation - The concept of REDD (Reducing Emissions from Deforestation and forest Degradation) basically stems from the idea of ​​including in the accounting of greenhouse gas emissions avoided by those that are reducing deforestation and forest degradation. Was born of a partnership between Brazilian and American researchers, which led to a proposal called "Compensated Reduction of Emissions" (Santilli et al, 2000), which was presented at COP-9 in Milan, Italy (2003), by IPAM and partners. According to this concept, developing countries that have tropical forests, they could promote reductions of their national emissions from deforestation would receive international financial compensation to avoided emissions. The concept of compensated reduction has become the basis of REDD discussion in the following years. (Http://www.ipam.org.br/saiba-mais/O-que-ee-como-surgiu-o-REDD-/3).

3 For further info about IPAM, please refer to www.ipam.org.br/download/livro/IPAM-em-Revista-2012/735.