Débora Souto Allemand é arquiteta e urbanista. Pesquisadora no grupo de pesquisa “Cidade+Contemporaneidade”. Estuda aproximações entre dança contemporânea e espaço urbano.
Eduardo Rocha é arquiteto e urbanista. Doutor em Arquitetura. Professor Adjunto e Pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Estuda cidade e contemporaneidade.
Rafaela Barros de Pinho é arquiteta e urbanista. Estuda cidade e contemporaneidade.
Como citar esse texto: ALLEMAND, D. S.; ROCHA, E.; PINHO, R. B. Descobrindo a cidade "para-formal ": controvérsias e mediações no espaço público.V!RUS, São Carlos, n. 10, 2014. [online] Disponível em: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=4&item=1&lang=pt>. Acesso em: 22 Nov. 2024.
Resumo
O trabalho tem o objetivo de mapear a para-formalidade em centros de cidades latino-americanas como Bagé, Salvador, Montevidéu, Santiago do Chile, Santo Ângelo, La Plata, Pelotas, Brasília, São Paulo e Jaguarão, a partir de cartografias urbanas, fazendo uso de recursos infográficos e divulgação em tempo real por meio de website. As atividades consideradas para-formais são aquelas que se encontram no limite entre o formal, tomado como formado, pronto, constituído,e o informal, no sentido de “em formação”, “em construção”. Tratam-se de atividades comerciais, culturais, relacionadas a moradia, entre outras, encontradas no espaço público da cidade, que não fazem parte de sua configuração primeira, mas que na contemporaneidade passam a fazer parte de seu cotidiano. Os sujeitos da instância aqui chamada para-formal são atores da cidade que se apropriam do espaço e se auto-organizam sem nenhuma intervenção do Estado. Suas atuações, muitas vezes, geram controvérsias, disputas, opiniões diversas e debates, já que interferem diretamente na dinâmica da vida urbana e reconfiguram o espaço das cidades. Tais agenciamentos constroem, com outros sujeitos urbanos, a própria cidade – Do It Yourself.
Palavras-chave: para-formal, cartografia urbana, espaço público, desenho urbano.
O que é “para-formal”?
Claros, escuros e cinzas, como num filme noir, a cidade se apresenta de várias maneiras aos nossos olhos. A cidade possui várias identidades. Ao mesmo tempo em que, ao visitante, se mostra sedutora, convida à descoberta, pode também apresentar um aspecto aterrador, ser a entrada para o universo do desconhecido. Suas esquinas levam tanto a desafios como a surpresas, especialmente quando está em questão o que aqui se chama para-formalidade.
Fig. 1: Mapa de localização das cidades onde ocorreu coleta de dados do “para-formal”. Fonte: http://www.guiageo-americas.com/mapas/americasul-politico.htm. Edição: Rafaela Barros de Pinho, 2013.
Este artigo é parte de um projeto de pesquisa1 que, entre 2011 e 2012, teve como objetivo a experimentação de para-formalidades nos territórios centrais de algumas cidades latino-americanas - Bagé, Salvador, Montevidéu, Santiago do Chile, Santo Ângelo, La Plata, Pelotas, Brasília, São Paulo e Jaguarão (figura 1) –, e as mapeou a partir de cartografias urbanas2, fazendo uso de recursos infográficos e divulgação em tempo real por meio de website3. A pesquisa voltou-se para os espaços não regulados, espaços “anarquistas”, onde se produzem atividades que tendem a subverter diretrizes tradicionais da economia formal, do urbanismo e das relações humanas, que podem gerar mudanças importantes, tanto teóricas como práticas, na maneira de pensar e planejar a cidade.
A cidade contemporânea é um lugar de fronteira, de ruptura, uma cidade de trocas, onde proliferam zonas abandonadas, baldias e, ao mesmo tempo, surgem novas culturas e subculturas, tais como as atividades chamadas para-formais, que são manifestações cotidianas da cidade.
O espaço público das cidades na contemporaneidade não está definido e limitado pelos planos urbanísticos. Em muitas ocasiões, são os habitantes da cidade que decidem qual espaço vai ter caráter público, e qual não; qual espaço cumprirá uma determinada função ou outra. Nesse sentido, surgem o que aqui se denomina atividades para-formais, como "zonas de ninguém", zonas que passam a cumprir funções diversas das quais primeiramente tendiam ter.
Assim, a pesquisa aproximou-se das áreas centrais de cidades, que além de espaços privilegiados de diversidades, são também lugares de densificação de atividades para-formais. Encontra-se, nesses espaços, o "outro urbano", aquele que escapa, resiste, vive e sobrevive no cotidiano de uma outra urbanidade, através de táticas de resistência e de apropriação do espaço urbano de forma anônima, ou não, mas certamente dissensual. Esse "outro urbano" se explicita no morador de rua, no vendedor ambulante, no camelô, no catador de lixo, na prostituta, nos artistas, entre outros (figura 2).
Fig. 2 – Para-formalidades. Fonte: Débora Allemand, 2013.
Para-formal, termo criado pelo grupo argentino GPA (2010),4 diz respeito a um conceito de fronteira, que ao contrário da oposição entre formal e informal, é o que busca experimentar a fresta ou o interstício entre categorias, que aqui também se denomina como "cenas urbanas para-formais". Diferente, portanto, das áreas do conhecimento como o Urbanismo e a Economia, que justamente categorizam seus estudos e objetos em cidade e/ou economia formal e informal. O modelo de investigação para-formal se apropria de categorias alternativas para explorar o “campo do meio”, as zonas intersticiais da cidade ordinária. Para-formal, nesse sentido, é algo artificial e provisório, algo relativo à forma, mas que ao mesmo tempo não se configura como tal. É um lugar do cruzamento entre o formal, no sentido de formado, e o informal, no sentido de “em formação”, entre o previsível e o imprevisível. Para-formal embaralha, assim, os conceitos tradicionais do formal, como o que é amparado pela legislação, e o informal, como o não protegido por leis, estabelecendo-se sobre o que habita a fresta entre eles.
Nessa pesquisa, as atividades para-formais são aquelas que se encontram no limite entre o formal, tomado como formado, pronto, constituído,e o informal, no sentido de “em formação”, “em construção”. Tratam-se de atividades comerciais, culturais, relacionadas a moradia, entre outras, encontradas no espaço público da cidade, que não fazem parte de sua configuração primeira, mas que na contemporaneidade passam a fazer parte de seu cotidiano.5 São cenas urbanas, passíveis de serem individualizadas por imagens fotográficas e anotações. O para-formal no cotidiano das cidades gera controvérsias, disputas, opiniões diversas e debates. Pressupõe relações cidade-corpo e corpo-cidade que, às vezes, são veladas e dóceis, outras reveladas e desobedientes.
Como capturar o para-formal nas cidades?
No decorrer do trabalho, buscaram-se como objetivos: (1) compreender e sistematizar as para-formalidades encontradas nos centros das cidades, com a intenção de dar visibilidade aos fenômenos urbanos da contemporaneidade, (2) analisar a relação da cidade formal com suas para-formalidades, e (3) estabelecer variáveis que permitam ilustrar de maneira clara o espaço e o tempo como sentido básico de orientação, sempre através de elementos de leitura de planos e cartografias, ou seja, imagens, e; errâncias urbanas6, como forma de desvendar a cidade dentro da cidade.
Delimitaram-se, a partir desses objetivos, os seguintes procedimentos metodológicos: (1) pesquisa referente às cidades estudadas, (2) coleta de imagens em trechos de áreas centrais de cidades, (3) identificação, análise e classificação dos equipamentos para-formais encontrados, (4) intervenções urbanas a partir dos equipamentos para-formais existentes; e (5) organização de dados referentes à coleta de imagens e análise das atividades realizadas. Conforme os itens abaixo:
Pesquisa referente às cidades estudadas. Nesta etapa houve uma pesquisa relacionada à cada cidade em que foi feita a oficina, apresentada no próximo item, referente ao número de habitantes, à morfologia urbana, ao histórico da cidade e do território - área central. Pesquisou-se também teoria da imagem e da comunicação. Todos estes dados foram sistematizados em um relatório da pesquisa.
Coleta de imagens exploratórias errantes em trechos de áreas centrais de cidades. Tratou-se da coleta das imagens realizada a partir de oficinas, configuradas como experimentos coletivos7, ministradas para grupos diversos, formados por moradores e não moradores das cidades. As imagens e errâncias foram feitas sempre nos centros das cidades, tendo-se sempre um ponto de saída e um ponto de chegada, mas nunca um caminho determinado a seguir.
Identificação, análise e classificação dos equipamentos para-formais encontrados. Esta etapa buscou identificar, em cada fotografia feita durante os trajetos de errâncias, os equipamentos para-formais presentes em cada cena registrada, sejam eles bancas, cestos, caixas, bancos, entre outros (figura 3). Após terem sido identificados, com base em atividades realizadas pós errâncias, com o grupo de participantes, foram analisados e classificados quanto ao seu tipo, porte, mobilidade e instalações. Foram feitas também as relações dos corpos com os equipamentos, e o reconhecimento dos elementos urbanos/climáticos que poderiam modificar ou ainda possibilitar as atividades, como o clima, a estação do ano, calçadas, marquises,etc.
Fig. 3 – Tabela de análise das cenas “para-formais”. Fonte: Eduardo Rocha, 2013.
Organização de dados referentes às coletas de imagens. Com a finalidade de organizar o material obtido, foi compilado um relatório da pesquisa, onde, além de discutir a visão do grupo sobre a para-formalidade, reuniu-se as imagens obtidas de todas as cidades latino-americanas levantadas. Para isso, delimitou-se uma sequência de dados referentes de cada uma das cidades em questão. Primeiramente apresentou-se o traçado urbano, e trajeto de errâncias (figura 4), a seguir foram escolhidas de dez a quinze cenas para-formais destacadas tanto por sua originalidade como por sua repetição.
Fig. 4 – Mapas com a demarcação dos trajetos principais das errâncias na cidade de Salvador. Fonte: Eduardo Rocha, 2013.
Análise do material coletado. Foram feitos alguns cruzamentos das informações obtidas das cidades pesquisadas, destacando-se os tipos de atividades e equipamentos mais ou menos utilizados, relacionando-os com o espaço urbano (figuras 5). Também investigou-se a natureza dos corpos para-formais, buscando-se compreender quais as diferenças de um lugar para outro. Entretanto, as principais análises focaram o espaço público onde as atividades para-formais encontravam-se, relacionando-o com a prática do urbanismo e do planejamento urbano.
Fig. 5 – Trailers na cidade de Jaguarão. Fonte: Rafaela Pinho, 2013.
Para-formalidades disputam o espaço com novas construções. Bancas de revistas confundem-se com vendedores ambulantes, cartazes anunciando promoções nas lojas misturam-se a anúncios fixados em ônibus. Quando muito se vê, pouco se percebe. Em meio a tantas imagens, e seus acúmulos sincrônicos, o homem se vê e se estranha, em seu próprio abandono.
Tudo que é pequeno desaparece. Mas, se perdemos tudo o que é pequeno, perdemos também nossa orientação, nos tornamos vítimas do que é grande, impenetrável, superpotente. Deve-se lutar por tudo o que é pequeno e que ainda existe. Aquilo que é pequeno confere ao que é grande um ponto de vista (WENDERS, 1994, p. 187).
As sistematizações elaboradas a partir do material coletado levam a algumas singularidades, entre as quais destacam-se:
Trailers. Os trailers são a categoria para-formal de maior evidência nas cidades de Jaguarão, Bagé, Pelotas, Santo Ângelo e Montevidéu (figura 6). São encontrados em locais diversos da cidade, desde a praça central, como em canteiros centrais, ruas de menos trânsito, juntamente com outros aglomerados para-formais. Contrariando as leis municipais, estes, que deveriam ser móveis, encontram-se fixos nos locais que caracterizam pontos comerciais, seja porque estão concretados ou fixos no solo, ou porque possuem alguma estrutura ao seu redor.
Em sua maioria, esses equipamentos para-formais são utilizados para a venda de lanches e alimentos em geral. Com algumas exceções, são utilizados para a venda de vestuário, brinquedos e diversas outras mercadorias. Ainda que tais equipamentos sejam irregulares, que ocupem espaço de estacionamento de carros, ou até mesmo, que prejudiquem o fluxo das pessoas nas calçadas - na maioria das vezes ocupadas por mesas e cadeiras - poucos habitantes de Jaguarão, por exemplo, optariam por uma cidade sem trailers.
O resultado da pesquisa apontou positivamente para o uso de trailers no espaço público, mostrando que as pessoas gostam de ter tais equipamentos em sua cidade, pelos mais diferentes motivos. Seja pelo fato de ser uma prática comum, ou por gerar movimento e maior segurança à noite, ou ainda por se apreciar a comida oferecida - variedade de lanches, por atrair pessoas para um determinado local, entre outros. Cabe ressaltar a péssima qualidade estética e sanitária de alguns desses trailers, que influencian de forma negativa a imagem da cidade.
Fig. 6 – Trailers na cidade de Montevidéu. Fonte: Débora Allemand, 2013.
Paraciclos inventados. O que aqui se chama “paraciclos inventados” são encontrados em grande quantidade nas cidades de Jaguarão (figura 7), Pelotas e Santiago. Qualquer objeto como grade, poste, entre outros, pode servir de apoio para estacionar bicicletas no centro da cidade.
Durante as errâncias pôde-se observar, indiscriminadamente, a enorme quantidade desse uso para-formal de elementos do espaço público e também privado. Esse fenômeno não é observado exclusivamente nas cidades estudadas, mas na grande maioria das cidades que possibilita o uso da bicicleta como meio de transporte, e que, de forma contraditória, tal uso não seja incentivado pelo poder público, ou por iniciativas privadas. A própria cidade parece sugerir, dessa forma, a necessidade de para-ciclos.
Mas, se a cidade não tem espaço para os ciclistas, por que a bicicleta ainda é o meio de locomoção de muitos? Por que ela ainda resiste, re-existe na cidade? Segundo Thaís Portela (2009), as resistências são uma forma das chamadas minorias irem contra os modelos de desenvolvimento ditados por uma suposta maioria. O exemplo mais significativo é o uso do automóvel como o principal meio de transporte urbano, que ocupa a maior parte do espaço das vias e minimiza os espaços para as pessoas. Entendendo as cidades para serem usadas e vividas pelas pessoas, a bicicleta poderia ser uma maneira interessante de experimentá-las e, ao mesmo tempo, ser um meio de transporte eficiente, e que ainda contribui para a diminuição do consumo de energia.
Destacamos aqui que:
- Pedalar na cidade pode ser uma boa forma de senti-la, descobri-la, observando as brechas, as margens, as atividades que acabam passando despercebidas quando andamos de carro ou ônibus, quando entramos na "cápsula" que nos transporta de um lugar a outro, que não nos permite observar o caminho.
- A bicicleta é um meio de expressão da sociedade e "grita" por espaço e por visibilidade. Nem mais, nem menos que os outros modais, ela deve apenas ser considerada no planejamento da cidade e nos projetos de ampliação ou reorganização viária.
Fig. 7 – Paraciclos inventados na cidade de Jaguarão. Fonte: Débora Allemand, 2013.
“Para-formal” no formal: Uma categoria muito recorrente nas cidades de Jaguarão, São Paulo (figura 8), Bagé e Santo Ângelo é o que chamamos de “para-formal no formal” trata-se de atividades “para-formais” que ocorrem anexadas às atividade formais (lojas, restaurante, etc.). O formal avança sobre o espaço público indiscriminadamente, acomodando-se nas calçadas, fachadas e até mesmo em vagas de estacionamento e caixas de rolamento. Uma extensão das vitrines. É cultural em algumas cidades que os produtos oferecidos pelos estabelecimentos fiquem à mostra para chamar a atenção do consumidor.
Muitas das edificações comerciais são de interesse histórico e são de tipologia residencial (eclético-historicistas), dificultando a existência e abertura de vitrines convencionais, assim, o comerciante opta pela exposição da mercadoria para fora de seu espaço privado, gerando o que chamamos de “para-formal” no formal.
Fig. 8 – “Para-formal” no formal na cidade de São Paulo. Fonte: Débora Allemand, 2013.
Vendedores isolados móveis ou ambulantes: Ao andar pelas ruas da cidade, uma atividade que chama atenção são os vendedores isolados móveis (figura 9), são aqueles que tentam vender seu produto sem “ponto comercial fixo” – talvez um território fixo –; mas como não tem um local determinado no mapa da cidade, a cada dia ou hora podem se deslocar, seja a procura de sombra ou de possíveis novos clientes. Tudo num movimento nômade.
Também são encontradas diversas formas de “para-formalidades” ambulantes, aquelas que caminham o tempo todo, se movimentam pela cidade: vendedores de produtos diversos, anunciantes, propagandas sonoras, divulgadores de produtos e estabelecimentos, etc.
Fig. 9 – Vendedores isolados móveis e ambulantes na cidade de Salvador. Fonte: Eduardo Rocha, 2013.
Grandes conjuntos “para-formais”: Conjunto este normalmente conhecido como “Camelôs” (figura 10), trata-se de um aglomerado de atividades “para-formais”, formado por bancas que vendem de vestuário a eletrônicos, passando por alimentos e de tudo o que se possa imaginar. É composto por trailers, bancas e alguns vendedores ambulantes. Na sua maioria as atividades ou equipamentos são fixos no espaço público. Sua implantação não segue nenhum padrão ou regularização definida, embora veladamente os espaços sejam definidos e demarcados. Circular por esses conjuntos é como andar em um labirinto.
Fig. 10 – Grande conjunto “para-formal” na cidade de Jaguarão. Fonte: Eduardo Rocha, 2013.
Moradores de rua: Cenas encontradas em boa parte das cidades estudadas são os moradores de rua (figura 11); pessoas desfavorecidas que por falta de opção, moram em calçadas, normalmente em lugares abertos, porém cobertos com marquises; estas por estarem presentes todos os dias na rua acabam por fazer parte do cenário urbano o qual estamos acostumados a conviver.
Tais moradores na maioria das vezes são pedintes, ou seja, vivem de pedir esmolas nas ruas, coisa que afeta o bem-estar da população que não se sente confortável com esta situação. Infelizmente é realidade em boa parte das cidades da América Latina.
Fig. 11 – Morador de rua na cidade de Montevidéu. Fonte: Eduardo Rocha, 2013.
Sonoro: Ao andar pelo centros das cidades há uma categoria que destaca-se pelo som, é composta por cantores e compositores, que se dedicam a apresentar suas canções no espaço público (figura 12). Além de “disponibilizar” a sua música, ao vivo ou em gravação, em troca de dinheiro, os músicos também procuram vender seus produtos personalizados, tais como CDs e DVDs.
O som é uma categoria que merece um estudo especifico, pode ser harmonioso ou apresentar-se como poluição sonora no espaço da cidade. São compostos por toda a mistura que o espaço público suporta em suas cordas vocais, por isso às vezes desafina.
Fig.12.Músicos urbanos na cidade de Pelotas. Fonte: Fonte: Rafaela Pinho, 2013.
Cartografias do “para-formal” nas cidades latinoamericanas
No decorrer do processo de pesquisa foi necessário um recorte espacial nas cidades escolhendo o centro dessas cidades como alvo do estudo. Centro aqui pensado como o lugar da congregação, complexidade e densidade de cenários “para-formais”, geralmente caracterizados por calçadões, largos e grandes fluxos de pedestres. Esse recorte espacial rebatizou o projeto de: “Para-formal no Centro da Cidade”. As conclusões são tiradas, então, a partir de três frentes, o espaço público, o equipamento e o corpo:
Espaço público “para-formal”: Encontramos para-formalidades nos seguintes espaços: calçadas, marquises, esquinas, abandonos, vazios, entre outros. Acoplamentos aos equipamentos urbanos (banco, poste, lixeiras, etc.) que podem ser referência para os lugares das “para-formalidades”.
Muitos buscam a sombra em lugares onde o clima é quente ou o sol para esquentar nos dias de frio. O movimento do sol e das sombras delimita certo lugar utilizável pelos “para-formais” no espaço público. Encontramos muitos trailers (equipamentos grandes e fixos) desde a praça até em canteiros centrais de avenidas, ruas de menos trânsito e juntamente com outros aglomerados “para-formais”.
Coexistem na categoria “para-formal no formal”, onde as atividades “para-formais” ocorrem anexos às atividades formais (lojas, restaurantes, ferragens, etc.). O formal avança sobre o espaço público indiscriminadamente, acomodando-se nas calçadas, fachadas e até mesmo em vagas de estacionamento e caixas de rolamento. Uma espécie de extensão das vitrines.
Concluiu-se, então, que o uso das calçadas pode “poluir a visual” das ruas, porém, em muitas das cidades, este hábito é aceito pela população que inclusive “interage” com os produtos, podendo ver e tocar na mercadoria sem precisar entrar no estabelecimento. Outro destaque é que alguns desses estabelecimentos, em frente às suas instalações, oferecem serviços e equipamentos públicos aos moradores da cidade, como: bancos para descansar, lixeiras, paraciclos, sombra, etc. Observa-se que essa invasão do espaço público quando indiscriminada nos passeios públicos pode obstruí-los e torná-los obstáculos para os pedestres. Nota-se também, sobre os espaços ocupados pelos equipamentos grandes, como os trailers, que esses necessitam de estudos a respeito de onde serão alocados no espaço público: é papel do arquiteto e urbanista planejar os espaços “para-formais”.
Outro tipo de “para-formalidade” que necessita de estudo e planejamento são os grandes conjuntos “para-formais”, que determinam e afetam, às vezes, grandes zonas da cidade, um território maior que o ocupado fisicamente pelo mesmo. Essas zonas devem ser alvo de estudos pormenorizados, porque tais zonas/territórios podem acabar tomando uma proporção de abrangência e desregularização indesejada para um bom funcionamento da cidade (existem casos em que essa desregulação acaba tomando conta de todo um bairro ou até mesmo de toda uma cidade).
Equipamento “para-formal”: Os equipamentos foram divididos em três categorias quanto: ao tamanho, mobilidade e instalações. Encontrou-se muitas “para-formalidades” pequenas e móveis e outras muitas grandes e fixas (como os trailers, que possuem, em sua maioria, instalações hidráulicas e elétricas).
A cidade de Salvador, por exemplo, possuía muitos equipamentos pequenos móveis, como carrinhos de venda de sucos. Já em Bagé e Jaguarão, observou-se uma grande quantidade de trailers, que deveriam ser móveis mas, hoje, na maioria das vezes, encontram-se fixos nos locais que escolheram para permanecer, seja porque estão concretados ou fixos no solo, ou porque até mesmo podem possuir alguma estrutura ao seu redor. A maioria dos moradores de Bagé e Jaguarão concluiu que gosta dos trailers, porque eles trazem segurança à noite e são uma opção de alimentação barata, fazendo parte do cotidiano dos lugares, já usuários contrários aos trailers alegam que eles atrapalham o visual da arquitetura do local – “são feios”.
Concluiu-se que os equipamentos grandes e fixos, “arquitetonicamente” não apresentam boas soluções, são na sua maioria adaptados e locados em pontos muitas vezes estratégicos para a percepção da imagem da cidade, muitos deles ocupando “grandes” áreas públicas. Além disso, muitos dos trailers capturados nas errâncias estavam em situação precária de conservação e higiene.
Já as cenas/atividades ambulantes e móveis, animam o espaço público da cidade, fazendo com que a cada momento nos deparemos com novidades, sensações, sons e paisagens diferentes. Os ambulantes e móveis trazem soluções criativas para o centro da cidade, inventam novos usos e para isso não poupam estratégias de sobrevivência e vivência. Conseguem criar uma rede de dependência para seus usos e atividades – “é impossível viver sem eles”.
Corpo “para-formal”: O corpo “para-formal” geralmente está presente nas atividades que observamos e muitas vezes ele é a própria “para-formalidade”, é o protagonista. Podem estar sentados, em pé ou caminhando. Em grupos ou solitários.
O “corpo-paraformal” é aquele que tenta vender seu produto sem “ponto comercial fixo”, sem um local determinado no mapa da cidade, a cada dia ou hora podem se deslocar, seja a procura de sombra ou de possíveis novos clientes, mas estão sempre por perto de aparatos, sejam públicos ou que eles próprios carregam.
Observou-se também que os corpos que acompanhavam os equipamentos médios e móveis geralmente se encontravam sentados ou em pé, ao lado do equipamento. Já nos trailers por exemplo, os corpos estavam dentro do próprio equipamento, podendo movimentar-se com certa facilidade.
Considerações finais
Notou-se, também, que as cenas “para-formais” não chegam a serem obstáculos, mas por outro lado pontos de referência – coisas interessantes (GEHL, 2013) – e que chegam a servir como parada e descanso ao pedestre (apoio corporal).
A partir das análises e cruzamentos de mapas, foi possível chegar a alguns resultados, como:
1) O "para-formal" é carregado de costumes e identidade/diferença cultural local;
2) O "para-formal" nos ensina novas soluções para a cidade na contemporaneidade, assim como anima, ensina, vive e experimenta a cidade;
3) O desenho urbano existente (legal) acomoda-se às cenas "para-formais" e vice-versa;
4) Ao mesmo tempo, o "para-formal" também em várias cenas polui, atrapalha e violenta a cidade e o cidadão e;
5) O "para-formal" denuncia a ausência de equipamentos urbanos e;
6) Os sujeitos do "para-formal" são verdadeiros atores da cidade, fazem eles mesmos o espaço da polis, lugar de política, de luta pelos direitos que ultrapassam o limite do estabelecido pelos órgãos que controlam a cidade.
Com base nos estudos, análises, oficinas e intervenções pode-se afirmar, ao final da pesquisa, que coexiste uma cidade “para-formal", uma cidade paralela à cidade formal. Encontrou-se um espaço de indiscernibilidade, uma zona esfumada, onde podemos abandonar ou encontrar tudo aquilo que ali mesmo havíamos perdido. A cidade ora limita, ora liberta os corpos e as ideias, o tipo de movimentação experimentada no corpo dos usuários é modificado conforme a cidade modifica-se. O “para-formal” realiza agenciamentos entre os diversos usuários da cidade, e seu cotidiano arquiteta sua própria cidade - Do It Yourself -, interferindo diretamente na dinâmica da vida urbana e trazendo novas formas de pensar a cidade.
Caminhando nas brechas, margens e desvios do espetáculo urbano que surge outra cidade, intensa, viva. O "Outro urbano" é aquele que escapa, resiste, vive e sobrevive no cotidiano dessa outra urbanidade, através de táticas de resistência e apropriação do espaço urbano, de forma anônima (ou não) e dissensual, radical. Esse "Outro urbano" se explicita através da figura do morador de rua, ambulante, camelô, catador, prostituta, artistas, entre outros. São estes que a maioria aponta por manter na invisibilidade, opacidade, sendo “alvos” da regulação, ou nas palavras de Paola Jacques (2012), “assepsia” dos projetos e intervenções urbanos. Portanto, compreende-se a importância das errâncias urbanas como forma de construção da cidade, abrindo espaço para discussões e pensamentos a respeito do lugar do ser humano.
Referências
AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
GEHL, J. Cidades para as pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.
GEHL, J.; SVARRE, B. How to study public space. Londres: Island Press, 2013.
GRIS PUBLICO AMERICANO. Para-formal: ecologias urbanas. Buenos Aires: Bisman Ediciones/CCEBA Apuntes, 2010.
JACQUES, P.B. Elogio aos Errantes. Salvador: EDUFBA, 2012.
LATOUR, B. Políticas da natureza. Bauru: UDUSC, 2004.
PORTELA, T. A escuta às Resistências. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL, 13., 2009, Florianópolis. Anais Encontros Nacionais da ANPUR, v. 13, Florianópolis: 2009.
ROCHA, E. Cartografias Urbanas. Revista Projectare, Pelotas, n. 2, p. 162-172, 2008.
WENDERS, W. A paisagem urbana. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, n. 23, 1994.
1 A pesquisa do Grupo Cidade+Contemporaneidade (http://contemporaneidade.wix.com/faurb), do Laboratório de Urbanismo (LabUrb), teve financiamento do CNPQ, a partir do edital Ciências Sociais. O grupo foi formado pelos seguintes pesquisadores: Eduardo Rocha (coordenador), Cristiane Dos Santos Nunes, Ivan Ribeiro Kuhlhoff, Laís Dellighausen Portela, Glauco Roberto Munsberg, Débora Souto Allemand, Rafaela Barros de Pinho, Gustavo Nunes, Lorena Maia, Paola Silva Brum, entre outros. ROCHA, Eduardo; e outros. Relatório Final de Pesquisa CNPQ. Os Lugares do Para-formal: marquises, abandonos e vazios no processo de planejamento urbano. Pelotas: UFPel, 2013. [não publicado].
2 A cartografia urbana é um método que se faz para cada caso, cada grupo, cada tempo e cada lugar. Podemos registrar essa cartografia urbana através de desenhos, fotografias, filmes, cadernos de campo, exercícios artísticos, sons, etc. - quaisquer formas de expressão que possibilitem avançar no exercício do pensar. A cartografia é um modo de ação sobre a realidade, um modo próximo à uma tática, um mapa que propõe o enfrentamento com o real, despojando-se com as mediações a partir de modelos preconcebidos (ROCHA, 2008).
3 A plataforma para-formal ainda encontra-se em fase de testes e pode ser acessada em: (http://plataformaparaformal.com.br/).
4 O grupo Gris Público Americano (GPA) é um coletivo independente, formado por um grupo de arquitetos argentinos com sede em Buenos Aires, integrado por Mauricio Corbalán, Paola Salaberri, Pío Torroja, Adriana Vázquez, Daniel Wepfer e Norberto Nenninger [https://www.facebook.com/grispublicoamericano.gpa]. Propõe investigações que tem como ponto central as situações de controvérsias urbanas, polêmicas e/ou complexas.
5 “A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio tempo, que adere a este e, dele toma distâncias [...]” (AGANBEM, 2009, p. 59). AGAMBEN, Giorgio. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
6 Segundo Paola Jacques: “Errar, ou seja, a prática da errância, pode ser um instrumento da experiência urbana, uma ferramenta subjetiva e singular, ou seja, o contrário de um método ou de um diagnóstico tradicional. A errância urbana é uma apologia da experiência da cidade, que pode ser praticada por qualquer um, mas que o errante pratica de forma voluntária. O errante é então aquele que busca o estado de espírito (ou melhor, de corpo) errante, que experimenta a cidade através das errâncias, que se preocupa mais com as práticas, ações e percursos, do que com as representações, planificações ou projeções” (2006, p.6).
7 O conceito de experimento coletivo, segundo Bruno Latour, em “Políticas da Natureza” (2004), é definido como o encarregado de reunir as múltiplas associações de humanos e não humanos sem segregação, uma espécie de “República das coisas”. Aos não humanos deveria ser dada a palavra, embora em poucos momentos o autor tenha explicitado como os não-humanos podem “falar” sem passar pelos seus porta-vozes, os cientistas.
Débora Souto Allemand is architect and urban planner, and member of “Cidade+Contemporaneidade” research group. She researches relations among Contemporary Dance and Urban Space.
Eduardo Rocha is architect and urban planner. PhD in Architecture. Professor and Researcher at Faculty of Architecture and Urban Planning College, at Universidade Federal de Pelotas (UFPel). He researches city and contemporaneity.
Rafaela Barros de Pinho is architect and urban planner. She researches city and contemporaneity.
How to quote this text: Allemand, D.S., Rocha, E. and Pinho, R B., 2014. Discovering the para-formal city: controversies and mediations in public space. V!RUS, 10. [e-journal] [online] Available at: <http://143.107.236.240/virus/virus10/?sec=4&item=1&lang=en>. [Accessed: 22 November 2024].
Abstract
This work aims to map para-formality in the downtown area of Latin American cities as Bagé, Salvador, Montevideo, Santiago de Chile, Santo Angelo, La Plata, Pelotas, Brasília, São Paulo and Jaguarão from urban cartography, making use of infographics and dissemination in real time via website. Activities considered to be para-formal are those that lie on the boundary between the formal – taken as formed, ready-made – and informal, as in "forming", "under construction." These are commercial, cultural, housing-related activities, among others, found in the public space of the city, which are not part of its first configuration, but nowadays become part of its everyday life. The subjects here called para-formal are actors of the city who take ownership of space and organize themselves without any intervention of the State. Their actions often generate controversies, disputes, different opinions and discussions, since they directly interfere in the dynamics of urban life and reconfigure the space of cities. Such assemblages construct, with other urban subjects, the city itself - Do It Yourself.
Keywords: para-formal, urban cartography, public space, urban design.
What is “para-formal”?
Light, dark, gray, like in a film noir, the town presents itself in various ways before our eyes. The town boasts several identities. At the same time the visitor is shown seductively invites to explore and discover he may also be presented with a terrifying aspect, a gate to the universe of the unknown. Its corners lead to both challenges and surprises, especially when what is in question is this that we here call para-formality.
Fig. 1 - Location map of the cities where data collection about “para-formal” occurred. Source: http://www.guiageo-americas.com/mapas/americasul-politico.htm. Editing: Rafaela Pinho Barros, 2013.
This article is part of a research project1 that, between 2011 and 2012, aimed to experiment with para-formalities in central territories of some Latin American cities - Bagé, Salvador, Montevideo, Santiago de Chile, Santo Angelo, La Plata , Pelotas, Brasília, São Paulo and Jaguarão (figure 1) -, and has mapped them out from urban cartography2, making use of infographics and dissemination in real time via website3. The research turned to the unregulated spaces, "anarchist" areas, where people produce activities that tend to subvert traditional guidelines of the formal economy, urbanism and human relationships. That can lead to important changes, both theoretical and practical, in thinking and planning the city.
The contemporary city is a place of border, of rupture, a city of trade, a place in which proliferate abandoned, uncultivated areas and, at the same time, there are new cultures and subcultures always arriving, such as the activities called para-formal, which are daily manifestations of the city.
The public space in contemporary cities is not defined and limited by urban plans. On many occasions, there are city dwellers who decide which space will have a public character and which one will not; which space will fulfill a certain function or another. Through this process appear para-formal activities, such as "nobody zones", areas that start to fulfill different functions from the ones they were initially supposed to fulfill.
Thus, the research approached the central areas of cities, which in addition to being prime spaces of diversity are also places of densification of para-formal activities. We find, in these spaces, the "other urban", the one who escapes, resist, and survive in the everyday life of another urbanity, through tactics of resistance and appropriation of urban space, anonymously or not, but certainly dissimulated. This "other urban" is made explicit in the homeless, the street vendor, the peddler, the garbage collector, the prostitute, the artists, among others (Picture 2)
Fig. 2 – Para-formalities. Source: Débora Allemand, 2013.
Para-formal, a term created by the Argentine group GPA (2010)4, concerns a concept of borders, which unlike the opposition between formal and informal, is seeking experience gap or interstice between categories, called here as well as "para-formal” urban scenes. It differs, therefore, from areas of knowledge such as Urban Development and Economy, which precisely categorize their objects and studies in formal and informal city and/or economy. The para-formal model of investigation appropriates alternative categories to explore the "middle field", the interstitial areas of the ordinary city. Para-formal in this sense is something artificial and temporary, something that concerns the form, but that at the same time does not configure itself as such. It is a place of intersection between the formal, in the sense of formed, and informal in the sense of "in formation", between the predictable and the unpredictable. The para-formal thus blurs the traditional concepts of formal, as something supported by legislation, and informal, as unprotected by laws, settling on what inhabits the gap between them.
In this research, para-formal activities are those that lie on the boundary between the formal, taken as trained, ready, constituted, and informal in the sense of "in-training", "under construction". These are commercial, cultural, housing-related activities, among others, found in the public space of the city, which are not part of its first configuration, but nowadays become part of its everyday life.5 These are urban scenes, which can be individualized by photographic images and annotations. The para-formal in the routine of the city generates controversies, disputes, debates and diverse opinions. It presupposes city-body and body-city relationships that are sometimes veiled and docile, others revealed and disobedient.
How can we capture the para-formal in the cities?
Throughout this work we sought as goals (1) to understand and systematize para-formalities found in city centers, with the intention of giving visibility to the contemporary urban phenomena, (2) to analyze the relationship of the formal city with its para-formalities, and (3) to establish variables that enable a clear way to illustrate clearly the space and time as a basic sense of orientation, always through reading elements of plans and cartography, ie, images, and urban wanderings6 as a way to uncover the city within the city.
We delimited from these goals the following methodological procedures: (1) research concerning the cities studied, (2) collection of images in portions of the central areas of cities, (3) identification, analysis and classification of para-formal equipment found, (4) urban interventions from existing para-formal equipment; and (5) organization of data regarding the collection of images and analysis of activities.
According to the items below:
Research regarding the studied cities. At this stage there was a research related to each city in which the workshop, presented in the next section, took place referring to the number of inhabitants, the urban morphology, the historic city and territory – the downtown or central area. We also researched the theory of image and communication. All these data were summarized in a research report.
Collecting wandering exploratory images in portions of central city areas. This was a collection of images from workshops, configured as collective experiments7, administered to different groups, formed by residents and non-residents of the cities. The images and wanderings were always made in the centers of cities, always having a point of start and arrival, but never given a pre-determined path to follow.
Identification, analysis and classification of the para-formal devices found. This stage sought to identify, in each photograph made during the wandering paths, para-formal equipment present in each registered scene, whether it would be stalls, baskets, boxes, banks, among others (Picture 3). After being identified, based on activities performed with the group of participants after the wanderings, the devices were analyzed and classified according to their type, size, mobility and facilities. Relations of bodies with the equipment, and the recognition of urban / environmental influences that could modify or allow activities such as the weather, the season, walkways, canopies and others were also made.
Fig. 3 – Table analysis of the "para-formal" scenes. Source: Eduardo Rocha, 2013.
Organization of data on the collections of images. With the purpose of organizing the obtained material, we compiled a research report, which, in addition to discussing the group's view on the para-formality, met the images obtained from all Latin American cities surveyed. For this, we delimited a data sequence for each one of the cities. First, we presented the urban layout, and wandering paths (Picture 4), and then we chose from ten to fifteen para-formal scenes we considered outstanding both for its originality and/or repetition.
Fig. 4 – Maps showing the demarcation of the main wandering paths in the city of Salvador. Source: Eduardo Rocha, 2013.
Analysis of the collected material. We did some crossing of information from the cities surveyed, highlighting the types of activities and equipment more or less used, relating them to the urban space (Picture 5). We also investigated the nature of the para-formal bodies, seeking to understand the differences from one place to another. However, the main analyzes focused public space where para-formal activities took place, relating them to the practice of urbanism and urban planning.
Fig. 5 – Trailers in the city of Jaguarão. Source: Rafaela Pinho, 2013.
Para-formalities fight for space with new constructions. Newsstands get mixed with street vendors, posters announcing promotions in stores mingle with ads on buses. When one sees too much, very little is noticeable. Amidst all these images, and their synchronous accumulation, the man sees and surprises himself in his own abandonment.
Everything small disappears. But if we lose all that is small, we also lose our orientation, we become victims of what is great, impenetrable, super-powerful. One must fight for all that is small and still exists. The small things give the great ones a point of view (WENDERS 1994, p. 187).
Systematizations drawn from material collected lead to some peculiarities, among which are:
● Trailers. The trailers are the para-formal category of greater evidence in the cities of Jaguarão, Bagé, Pelotas, San Angelo and Montevideo (Picture 6). They are found in various locations around the city, from the central square to medians, streets with less traffic, along with other para-formal clusters. Contrary to the municipal laws, that state these trailers should be mobile, they are actually fixed in locations, presenting themselves as traditional commercial spots, either because they are fixed or concreted into the ground, or because they have some structure around them.
Most of these para-formal equipment is used to sell snacks and food in general. As a few exceptions, they are also used for the sale of clothing, toys and other miscellaneous goods. Although such devices are irregular, occupying parking space, or even disrupting the flow of people on the sidewalks – most of the time occupied by tables and chairs - few inhabitants of the city of Jaguarão, for example, would opt for a city without trailers.
The survey results pointed positively to the use of trailers on public space, showing that people like to have such equipment in their towns, for the most different reasons. Either because it is a common practice, or because they generate commotion and thus greater safety at night, or even because they enjoy the food on offer – a variety of snacks – or because they attract people to a particular location, among others. We highlight the terrible aesthetic and sanitary quality of some of these trailers, which have a negative impact to the image of the city.
Fig.6 – Trailers in the city of Montevideo. Source: Débora Allemand, 2013.
● Invented para-cycles. What we subsequently call "invented para-cycles" are found in large numbers in the cities of Jaguarão (Picture 7), Pelotas and Santiago. Any object as a grid, post, among others, can serve as support to park bicycles in the city center.
During the wanderings it could be observed, indiscriminately, the huge amount of this para-formal use of both public and private space. This phenomenon is observed not only in the cities studied, but in most cities that enable the use of the bicycle for transportation, and, in a contradictory way, such use not encouraged by the public power or by private initiatives. The city itself seems to suggest, therefore, the need for para-cycles.
But if the city has no space for cyclists, why is the bike still the means of locomotion of many? Why it still resists, re-exists in the city? According to Thais Portela (2009), resistances are a way that the so called minorities find to go against development models dictated by a supposed majority. The most significant example is the use of the automobile as the primary means of urban transport, which occupies most of the space of routes and minimizes the space for people. Understanding cities as places to be used and lived by people, the bike could be an interesting way to try them and at the same time be an efficient means of transportation, and one that also contributes to the reduction of energy consumption.
Here we would like to highlight:
- Cycling in the city can be a good way to feel it, discover it, noting the gaps, margins, activities that end up going unnoticed when we walk by car or bus, as we enter the "capsule" that transports us from one place to another, one that does not allow us to observe the way.
- Cycling is a means of expression of society and "screams" for space and visibility. Neither more nor less than the other modes, it should be considered in city planning and road expansion or reorganization projects.
Fig, 7 – Para-cycles invented in the city of Jaguarão. Source: Débora Allemand, 2013.
● "Para-formal" in formal: A very recurrent class in the cities of Jaguarão, São Paulo (Picture 8), Bage and Sant'Angelo is what we call "para-formal in formal". These are “para-formal” activities that occur attached to formal activities (shops, restaurants, etc.) The formal advances indiscriminately on public space, accommodating up on sidewalks, facades and even in parking spaces and bearing housings. An extension of the displays. It is cultural in some cities that products offered by the shops be at display in the street to draw the consumer's attention.
Many commercial buildings are of historical interest and are residential typology (eclectic-historicist), making the existence and opening of conventional displays difficult, so the merchant chooses to display the goods out of his private space, therefore creating what we call "para-formal "in formal.
Fig. 8 – “Para-formal” in formal, city of São Paulo. Source: Débora Allemand, 2013.
● Isolated wandering vendors or street traders: While walking through the city streets, an activity that attracts attention is the isolated mobile vendors (Picture 9), the ones who try to sell their product without "fixed business location" - perhaps a fixed territory -; but since they have no particular location on the city map, every day or hour they can move, seeking shade or potential new clients. All in a single nomadic movement.
There also can be found a vast array of wandering "para-formalities", those who walk all the time, moving around the city: sellers of various products, advertisers, sound advertising, promoters of products and establishments, etc.
Fig. 9 – Isolated mobile and wandering vendors in the city of Salvador. Source: Eduardo Rocha, 2013.
● Large "para-formal" sets: This sets are usually known as "Camelôs" (Picture 10). They have a cluster of “para-formal” activities consisting of stalls selling from clothing to electronics, through food and everything imaginable. It consists of trailers, stalls and some street vendors. Most activities or equipment are fixed in the public space. Its implementation follows no set pattern or regularization, although covertly spaces are defined and demarcated. Walk around these sets is like walking in a maze.
Fig. 10 – Great set “para-formal” in the city of Jaguarão. Source: Eduardo Rocha, 2013.
Homeless: Homeless are in the scenes found in most of the cities studied (Picture 11); disadvantaged people that, for lack of choice, live on the pavements, usually in open places, though covered with canopies. Maybe because this scene is present every day in the street it ends up becoming part of the urban scenery which we are accustomed to live in.
Such residents are mostly beggars, or live on the streets begging, something that affects the welfare of the population that does not feel comfortable with this situation. Unfortunately it is true in many of Latin American cities.
Fig. 11 – Homeless person in the city of Montevideo. Source: Eduardo Rocha, 2013.
● Sound: When walking through town centers there is a category that is distinguished by sound, such category is composed of singer-songwriters, who are dedicated to present their songs in public space (Picture 12). In addition to "deliver" their music, live or on record, in exchange for money, the musicians also seek to sell their custom products such as CDs and DVDs.
The sound is a category that deserves a particular study, it can be harmonious or present itself as noise pollution in the city space. It consists of the entire mix that the public space supports on his vocal cords, so it is natural to go out of tune sometimes.
Fig.12 – Street musicians in the city of Pelotas. Source: Rafaela Pinho, 2013.
Cartographies of the “para-formal” in latin american cities
During the research process we redeemed necessary a space cut in the cities choosing their town centers as the target of the study. “Center” thought of as the place of meeting, complexity and density of "para-formal" scenarios, usually characterized by wide boardwalks large flow of pedestrians. This spatial selection renamed the project: "Para-formal in the City Centre". The conclusions are drawn, therefore, from three fronts: public space, the equipment and the body:
“Para-formal” public space: We find para-formalities in the following areas: sidewalks, awnings, street corners, dropouts, voids, among others. Couplings to urban facilities (bank, post, bins, etc.) which may serve as a reference for the places of “para-formalities”.
Many seek the shade in places where the weather is hot or the sun to warm up on cold days. The movement of the sun and the shadows delimits the area usable by "para-formal" agents in the public space. We found many trailers (big and stationary equipment) from the square up to the central avenues flowerbeds, streets with less traffic along with other "para-formal" clusters.
They also coexist in the category "para-formal in formal", where activities "para-formal" occur attached to formal activities (shops, restaurants, hardware, etc.). The formal moves indiscriminately on public space, accommodating up on sidewalks, facades and even in parking spaces and bearing housings. A sort of extension of the displays.
We then concluded that the use of sidewalks can "pollute the visual" of the streets, however, in many cities, this habit is accepted by the population that will even "interact" with the products, seeing and touching the goods without entering the facility.
Another highlight is that some of these establishments, in front of their premises, provide public services and facilities to the residents of the city, such as benches to rest, bins, para-cycles, natural shadow, etc. It is possible to observe that this invasion of public space, when indiscriminate, can obstruct public tours making them obstacles for pedestrians. One could also note, on the spaces occupied by large equipment such as trailers, that these need to be studied in order to determine where they should be allocated in the public space: it is the role of the architect and urbanist plan the “para-formal” spaces.
Another type of "para-formality" that requires study and planning is the big "para-formal" sets, that determine and affect, sometimes, large areas of the city, more than just the territory physically occupied by it. These areas should be targeted for detailed studies because such areas / territories may end up taking a proportion of coverage and unwanted deregulation for a well-functioning city (there are cases where this deregulation ended up taking charge of a neighborhood or even a whole city).
“Para-formal” equipment: The equipment was divided into three categories concerning: the size, mobility and facilities. We found many small and mobile "para-formal" and many other large and fixed (like the trailers, which have, in most cases, hydraulic and electrical systems).
The city of Salvador, for example, had many small mobile devices such as carts selling juices. On the other hand, in Bage and Jaguarão, there was a lot of trailers, which probably started off as portable but today, most often, are fixed at the sites they chose to stay, either because they are fixed or concreted into the ground, or even because it may possess some structure around it. Most residents of Bage and Jaguarão concluded that they like the trailers, because they bring security at night and are a cheap food option, being a part of everyday life. The ones that dislike the trailers claim that they hinder the site’s architecture - "they are ugly".
It was concluded that large and fixed equipment have no good solutions "architecturally". They are mostly adapted and often leased at strategic points for the image perception of the city, many of them occupying "large" public areas. Furthermore, many of the trailers caught on the wanderings were in precarious conservation and hygiene.
Now the wandering and mobile scenes/activities enliven the public space of the city, making every moment we come across filled with new sensations, sounds and different landscapes. The street vendors and wanderers bring creative solutions to the city center, inventing new uses for it and, in order to do so, make use of survival and living strategies. They are able to create a network of dependency to their uses and activities - "it is impossible to live without them."
“Para-formal” body: The “para-formal” body is usually present in the activities we observed and often it is the very "para-formality" itself. They may be sitting, standing or walking. Solitary or in groups.
The "paraformal-body" is one who tries to sell their product without "fixed business location", without a particular location on the city map, moving every day or hour, seeking for shade or potential new clients, with apparatuses always nearby, whether they be public or carried with themselves.
It was also observed that the bodies that accompanied the medium sized and mobile equipment generally were sitting or standing next to the equipment. That is not the case for the trailers, as an example, in which the bodies were inside the equipment itself, being able to move with relative ease.
Final considerations
It was noted, too, that the “para-formal” scenes do not get to be obstacles, but, on the other hand, points of reference - interesting things (GEHL 2013) - and come to serve as a rest stop to pedestrians (body support ).
From the analysis and crossings of maps, it was possible to get some results, such as:
1) The "para-formal" is loaded with custom and cultural local identity/difference;
2) The "para-formal" teaches us new solutions to the contemporary city, as well as animate, teach, live and experience the city;
3) The existing urban design (legal) accommodates itself up to the “para-formal” scenes and vice versa;
4) At the same time, the "para-formal" in several scenes also pollutes, disrupts and attacks the city and the citizen and;
5) The "para-formal" denounces a lack of urban facilities and;
6) The subjects of the "para-formal" are true actors of the city, making themselves the space of the polis, a space of politics, of fighting for the rights that exceed the ones established by the agencies that control the city.
Based on the studies, analyzes, workshops and interventions we may state, at the end of the survey, that coexists a “para-formal” city, a parallel city to the formal city. We found a space of indiscernibility, a blurred area where we can abandon or find anything that we had lost right there. The city sometimes limits, sometimes releases the bodies and ideas, the kind of movement experienced in the body of the user is changed as the city is modified. The "para-formal" performs assemblages between the different users of the city, and its daily life architects its own city - Do It Yourself - interfering directly in the dynamics of urban life and bringing new ways of thinking about the city.
Is by walking in the gaps, margins and obscure paths of the urban spectacle that we see another city arise: intense, alive. The "Other Urban" is the one that escapes, resists, and survives in the everyday lives of such other urbanity, through tactics of resistance and appropriation of urban space, anonymously (or not) and dissimulated, radical. This "Other Urban" is explained through the figures of homeless people, street vendors, collectors, prostitutes, artists, among others. Those are the ones the majority chooses to keep in invisibility, opacity, turning them in “targets” to regulation or, in the words of Paola Jacques (2012), "aseptic" projects and urban interventions. Therefore, we understand the importance of urban wanderings as a way of building the city, opening up space for discussions and thoughts about the place of mankind.
References
Agamben, G., 2002. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: UFMG.
Gehl, J., 2013. Cidades para as pessoas. São Paulo: Perspectiva.
Gehl, J. and Svarre, B., 2013. How to study public space. London: Island Press.
Gris Publico Americano, 2010. Para-formal: ecologias urbanas. Buenos Aires: Bisman Ediciones/CCEBA Apuntes.
Jacques, P.B., 2012. Elogio aos Errantes. Salvador: EDUFBA.
Latour, B., 2004. Políticas da natureza. Bauru: UDUSC.
Portela, T., 2009. A escuta às Resistências. In: XIII Encontro da Associação Nacional De Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional. Florianópolis.
Rocha, E., 2008. Cartografias Urbanas. Revista Projectare, 2, pp.162-172.
Wenders, W., 1994. A paisagem urbana. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 23.
1 The research from the “Grupo Cidade + Contemporaneidade” (http://contemporaneidade.wix.com/faurb), from the “Laboratório de Urbanismo” (LabUrb), was funded by CNPQ, trough the Social Sciences edict. The group was formed by these researchers: Eduardo Rocha (coordinator), Cristiane Dos Santos Nunes, Ivan Ribeiro Kuhlhoff, Laís Dellighausen Portela, Glauco Roberto Munsberg, Débora Souto Allemand, Rafaela Barros de Pinho, Gustavo Nunes, Lorena Maia, Paola Silva Brum, among others. ROCHA, Eduardo; and others. Relatório Final de Pesquisa CNPQ. 2013. Os Lugares do Para-formal: marquises, abandonos e vazios no processo de planejamento urbano. UFPel, Pelotas. [Unpublished].
2 The urban cartography is a method that we do for each case, group, time and place. We can register this urban cartography through drawings, photographs, films, field notebooks, artistic pursuits, sounds, etc. - Any form of expression that allow us to advance in the exercise of thinking. Cartography is a way of acting upon reality, a “close quarters” tactic, a mapping that proposes confrontation with reality, stripping himself of the mediation from predesigned models. (ROCHA, 2008).
3 The para-formal platform is still in testing phase and can be accessed at: (http://plataformaparaformal.com.br/).
4 The American Public Gris group (GPA) is an independent collective, formed by a group of Argentine architects based in Buenos Aires: Mauricio Corbalan, Paola Salaberri, Pio Torroja, Adriana Vazquez, Daniel Wepfer Norberto and Nenninger [https: // www.facebook.com/grispublicoamericano.gpa]. The group proposes research that has as its central point urban situations with controversial and / or complex disputes.
5 "The contemporary world is therefore a unique relationship with time itself, sticking and to it, and taking distances from it [...]" (AGANBEM 2009, p. 59). Agamben, G 2002. Homo sacer: sovereign power and bare life I. UFMG, Belo Horizonte.
6 According to Paola Jacques, "To wander, that is, the practice of wandering, can be an instrument of urban experience, an unique and subjective tool, the opposite of a traditional method or diagnosis. The urban wandering is an apology pf the city experience, one that can be practiced by anyone, but the wanderer practices it voluntarily. The wanderer is then the one seeking a wandering state of mind (or rather of body), experiencing the city through the wanderings, which care more about the practices, actions and routes, than about the representations, lesson plans or projections "(2006, p.6).
7 The concept of collective experiment according to Bruno Latour on "Políticas da Natureza" (2004) is defined as the charge of bringing together the multiple associations of humans and nonhumans without segregation, a kind of "Republic of things." To non-human should be given the word, although in a few moments the author has explained how non-humans can "talk" without going through their spokespersons, the scientists.