Documentário e cidade: representando fragmentos, construindo olhares

Maria Júlia Martins, Luciana Roça

Maria Júlia Martins é Pedagoga, Mestre em Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte, e pesquisadora do Nomads.usp. Investiga o campo das artes corporais contemporâneas e suas relações com o espaço público urbano.

Luciana Santos Roça é bacharel em Imagem e Som, Mestre em Arquitetura e Urbanismo e pesquisadora do Nomads.usp. Pesquisa intervenções sonoras em espaços públicos, procurando integrar os campos disciplinares de Estudos de Som e de Arquitetura.


Como citar esse texto: MARTINS, M. J. S.; ROÇA, L. S.Documentário e cidade: representando fragmentos, construindo olhares. V!RUS, São Carlos, n. 13, 2016. Disponível em: <http://143.107.236.240/virus/virus13/?sec=6&item=1&lang=pt>. Acesso em: 22 Dez. 2024.


Resumo:

O vídeo documentário possibilita a construção de reflexões e aproximações sobre a cidade, podendo ser um método de aproximação das dinâmicas urbanas e também de expressão das mesmas. Este artigo discute e reflete sobre uso do audiovisual, em geral, e do documentário, em particular, como um meio que amplia e contribui para a compreensão da cidade. Para tanto, tem-se em perspectiva a produção da disciplina “Documentário e Cidade: pensamento crítico e experimentação”, realizada através de uma colaboração entre o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, e o Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, da Universidade Federal de São Carlos, sob orientação dos professores Marcelo Tramontano e Arthur Autran, respectivamente. Incluem-se aqui os vídeos documentários produzidos pelos participantes da disciplina, cedidos gentilmente para publicação por seus realizadores e disponíveis para visualização no final do artigo. Ao possibilitar olhares e representações de mundo, o documentário estimula o entendimento de dinâmicas urbanas, além de repensar o fazer acadêmico, divulgação científica e relações entre Academia e Sociedade; e, enfim, por promover um autoexame do documentarista-pesquisador perante a cidade.

Palavras-chave::Documentário; Cidade; Ensino; Método de pesquisa.


1 Documentário e cidade: panoramas de uma proposta

Quando abordam-se questões sobre vídeo documentário algumas estratégias de linguagem utilizadas, tradicionais e convencionais, já vêm à mente em um primeiro momento: voz over, ou seja, um narrador com comentários, muitas vezes explicativos ou descritivos, entrevistas, uso de imagens de arquivo, além da noção de que o material apresentado corresponde muito mais ao “real” do que o filme de ficção. Contudo, a riqueza de recursos do vídeo documentário disponível para realizar “representações do mundo”, assim como colocado por Nichols (2010), ultrapassa essas estratégias que vêm à mente. Assim como Bill Nichols (2010, p. 48) aponta, “os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam apenas um conjunto de formas ou estilos”. A heterogeneidade do documentário é clara desde as primeiras décadas da história do cinema, com a musicalidade das imagens em Berlim, sinfonia de uma metrópole, de Walter Ruttmann, ou a irreverência de À propos de Nice, de Jean Vigo; no âmbito da produção brasileira contemporânea podemos citar documentários como o memorável Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, ou Morro dos Prazeres, de Maria Augusta Ramos.

Para além de sua linguagem rica e complexa no âmbito do audiovisual, o documentário é uma forma tanto de refletir sobre a cidade através da discussão de sua produção, como também um método para se alcançar maior compreensão sobre ações, dinâmicas e particularidades das cidades. Assim, o documentário apresenta-se como um método capaz de ampliar reflexões rumo à compreensão dos espaços urbanos com potencialidades no âmbito acadêmico. Apesar de áreas como Antropologia e Etnografia já utilizarem este método há décadas, os métodos clássicos de aproximação e leitura da cidade no âmbito da Arquitetura e Urbanismo não costumam envolver o uso do audiovisual e do documentário. Esse fator tornou a ocasião da disciplina um momento de experimentação e discussão crítica, tanto sobre o espaço urbano quanto sobre a linguagem de documentário em si.

Procurando contemplar essa reflexão, a disciplina “Documentário e cidade: pensamento crítico e experimentação” teve como proposta aproximar os campos disciplinares da Arquitetura e do Cinema através da ponte entre a cidade e o documentário. Para isso, a disciplina contou com a aproximação entre o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, com o Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Sociedade, da Universidade Federal de São Carlos. Procurou-se, portanto, verificar limites e potencialidades da utilização do documentário e de narrativas audiovisuais como meio de aproximação e representação de espaços urbanos e suas dinâmicas. A disciplina ocorreu no segundo semestre de 2016 e teve em seu corpo estudantes de pós-graduação e alunos ouvintes com formações em diferentes áreas do conhecimento, principalmente áreas correlatas à Comunicação Social, Cinema e Arquitetura e Urbanismo, vindos de ambas universidades, Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de São Carlos.

O documentário torna-se um locus de comunicação e reflexão conjunta, que tem potencialidade para promover altos níveis de experimentação, trazendo informações e debates que são difíceis de serem reproduzidos em outros formatos. Para o campo da Arquitetura, especificamente, a aproximação e diálogo com o documentário amplia, adensa e enriquece formas que a Arquitetura e o Urbanismo já possuem de registro do espaço e leitura, com contribuições particulares.

Tendo esses aspectos em vista, o documentário pode ser entendido como uma representação criativa e sensível do mundo em que vivemos, um método de pesquisa e também uma forma de leitura. De maneira geral, a potencialidade do documentário às pesquisas acadêmicas reside em trazer contribuições ao debate que outros formatos e métodos mais clássicos possuem mais dificuldade em trazer. As possibilidades de composição a partir de imagens em movimento e sonoridades extraídas das dinâmicas urbanas podem produzir materiais audiovisuais bastante expressivos que permitem representar a cidade e as relações que a constituem de forma mais complexa e sensível. São composições de tensões, presenças, depoimentos, ações, sentimentos, olhares, percepções e experimentações que dificilmente um texto escrito seria capaz de traduzir.

A produção de documentário possibilita a representação de um fragmento do mundo em que vivemos, de uma possível perspectiva sobre um recorte de uma dada realidade que se apresenta ao público como uma possibilidade de análise crítica e reflexiva sobre determinado fenômeno. Reconhece-se a importância da integração da metodologia fílmica em diversos campos do conhecimento, especialmente as ciências humanas, no sentido de promover o conhecimento de diferentes contextos e culturas, assim como Ramos e Serafim (2007) defendem.

Deste modo, buscou-se ao longo da disciplina refletir e analisar como o audiovisual pode ampliar os instrumentos para leitura e expressão dos espaços agregando práticas, significados e saberes; não só para a Arquitetura, mas também para outros campos de conhecimento, possibilitando a sensibilização e potencialização do entendimento de determinado tema. Acredita-se que a aproximação de campos de conhecimentos distintos possibilita a constituição de trabalhos e reflexões coletivas que alimentam perspectivas metodológicas transdisciplinares fundamentadas em diversos aportes teóricos e práticos que, por sua vez, engendram potentes processos de produção e compartilhamento de conhecimento.

2 Documentários, estéticas e fragmentos urbanos

O resultado dado pelo conjunto dos documentários da disciplina foi heterogêneo, tanto em relação aos temas quanto aos aspectos e fragmentos urbanos representados, além das opções estéticas diferentes entre si.

Os documentários produzidos pela disciplina podem ser encontrados ao fim do texto para visualização, contudo no presente momento cabe uma apresentação breve, com uma sinopse dos mesmos. Foram produzidos cinco documentários, aqui publicados com a devida autorização de seus realizadores, apresentados em ordem alfabética:

a Demolições

Realizadores: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos, Yasmin Bidim.

Fig. 1. Demolições. Fonte: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos, Yasmin Bidim.

Sinopse: "Demolições" é um documentário que discute o uso e, em muitas vezes, o descaso dos prédios antigos das cidades, especialmente aqueles localizados em centros comerciais. Esses prédios deixam de ser vistos por seu valor histórico, mas sim enquanto terra para construção de estabelecimentos com valor agregado - diversas casas demolidas dão lugar para estacionamentos privados, farmácias e outros estabelecimentos comerciais.

Os pedaços desmontados, como portas e janelas, são vendidos em lojas especializadas de demolição e constroem outras novas casas, dando um novo uso àqueles pedaços de prédios antigos. Você desmonta uma cidade que monta uma nova cidade; a primeira tinha um valor histórico, a segunda um valor comercial.

b Hortalizar

Realizadores: Fernanda Ferrari, Mariah G. Di Stasi, Paulo Mendes.

Sinopse: As cidades se consolidam cada vez mais aumentando sua densidade e gabarito. Crescem, em sua maioria, sem um planejamento adequado à qualidade de vida de seus habitantes resultando em espaços sem áreas de lazer adequadas e lotes para habitação cada vez menores. O sufocamento causado por essa direção de desenvolvimento das áreas urbanas causam um extravasamento na população, que se reflete de diversas formas.

O documentário Hortalizar, apresenta uma das faces desse extravasamento, perpassando por hortas urbanas, que se consolidaram por meio de comunidades e ONGs, em meio à insatisfação por parte da população em relação aos alimentos ofertados pelo mercado, aos espaços vazios na malha urbana resultantes da especulação imobiliária, dentre outros fatores, conformando um refúgio.

c Linha 58

Realizadores: Juliana Trujillo, Luis Jorge Ocasitas, Rafael Baldam, Thiago Rodrigues.

Sinopse: Subir em um ônibus, atravessar a malha urbana e descer no seu destino. Que cidade existe entre os pontos inicial e final desse percurso? Ou, quantas cidades existem? O ponto de ônibus derradeiro é distante, é o objetivo de quem trabalha longe de casa, de quem dedica horas do seu dia para vencer o espaço e o tempo do caminho. O ônibus, agente do transporte, abriga, lota, para, é insuficiente. Deslocar-se pela cidade envolve escolhas e necessidades; coloca o olhar do usuário sobreposto ao sistema de transporte municipal. O atrito é iminente.

Observar a cidade através das lentes de uma câmera nos permite captar em detalhes a experiência dos diferentes atores que coexistem nesse sistema, possibilitando registrar ações imprevisíveis que emergem da relação entre eles.

d Safe Place

Realizadores: Giovanna Consentini, Jéssica Tardivo, Sandra Schmitt Soster.

Sinopse: Safe Place retrata situações de assédio em ambientes de condomínios fechados, lugares que são comumente classificados como seguros em relação a outros modelos residenciais. O quanto o espaço construído e vendido como refúgio é realmente um refúgio? Aprisionar-se em uma porção urbana isolada, murada e extremamente vigiada constitui refugiar-se dos males da sociedade atual?

e Sexta na Praça

Realizadores: Luciana Roça, Maria Júlia Martins, Varlete Benevente.

Sinopse: Na Praça dos Pombos em São Carlos, interior de SP, vários adolescentes de diferentes bairros periféricos se encontram às sextas-feiras. A praça torna-se um refúgio temporário no qual os jovens criam oportunidades de convívio e diversão no espaço público, espaço muitas vezes renegado nas periferias e aos cidadãos de baixa renda.

Já através da breve apresentação dada pelas sinopses é possível verificar a diversidade de assuntos e de formas de abordagem. Tal diversidade foi um dos objetivos da disciplina, correspondido pelos participantes.

Os diversos aspectos da cidade foram contemplados através da proposta de seguir o tema “Refúgio”, abordado pelos autores Can Altay e Philipp Misselwitz (2009). A palavra, que possui como um conceito comum a impressão de um lugar seguro, é resgatada pela sua etimologia que dirige para um retroceder, recuar, fugir de algo que se quer evitar. Os autores (Idem.) identificam três aspectos comuns a todos os refúgios: um conflito não resolvido, que acarreta em um deslocamento voluntário ou forçado, como expulsão ou fuga da agressão; o espaço do refúgio são estabelecidos através de uma fronteira que claramente divide e aliena determinado território, seja através de barreiras físicas ou simbólicas; e, finalmente, têm seu funcionamento marcado pela suspensão de regras vigentes, de forma espontânea ou de forma obrigatória. Tal conceito de refúgio não trata de um pessimismo, mas conduz a uma chave de leitura diferente na qual podem ser compreendidos aspectos positivos ou negativos da cidade.

Os documentários produzidos trouxeram diferentes aspectos das dinâmicas da cidade de São Carlos nas quais podem-se observar, em alguma medida, as noções apresentadas pelos autores citados anteriormente sobre o conceito “refúgio”. Os temas problematizados nos vídeos puderam ser analisados e debatidos conjuntamente, possibilitando a discussão entre os participantes.

Quando filmamos em contextos culturais e meios sociais diferentes daqueles do pesquisador, é necessário combater os estereótipos e as ideias pré-concebidas e desenvolver uma atitude de autocrítica. (RAMOS, SERAFIM, 2007)

Além da ampliação dos debates urbanos, tal exercício possibilitou a reflexão e experimentação dos diferentes modos de se fazer documentários. Como resultado foram produzidos documentários que apresentaram opções estéticas variadas que possibilitaram reflexões sobre potencialidades e limites que as escolhas podem oferecer em relação ao que se deseja comunicar e apresentar.

Outra reflexão que merece destaque relatada pelos participantes em relação às experiências e trocas realizadas ao longo da disciplina foi a importância que o processo de produção do documentário teve em suas percepções e práticas como documentaristas-pesquisadores. Além disso, relatos de surpresas e imprevistos, negativos ou positivos, permearam as gravações dos realizadores, que se viram diante de novas ações que não estavam no roteiro. Dessa forma, os realizadores haviam de ter desenvoltura e destreza para combinar as ações inesperadas com sua concepção do documentário, entendendo o imprevisto e também inserindo-o no documentário.

Segundo os participantes a imersão em campo para a captação das imagens e sons foram relatados como momentos bastantes ricos para conhecimento e troca com os atores de seus temas. O encontro com o “outro”, com a alteridade que se apresenta na experiência em campo, produz tensionamentos e reconfigurações nos limites conceituais dos pesquisadores estimulando reflexões que, de outro modo, não seriam possíveis sem o encontro e troca com os atores locais.

Na experiência em campo o pesquisador se depara com elementos e situações inesperados que não foram pensadas no roteiro inicial, conhece personagens e decifra histórias que pertencem ao universo da cidade e, através da câmera registra fragmentos de tal complexidade e riqueza das dinâmicas urbanas. Ao distanciar-se para elaborar análise e estabelecer o roteiro de edição o documentarista elabora um discurso audiovisual composto de suas reflexões e do que foi encontrado em campo. Nessa perspectiva, o documentarista não é neutro ao formar uma representação de mundo.

Os documentários produzidos foram percebidos pelos realizadores, também, como um recurso potente de sensibilização e publicização de determinado tema, uma vez que o documentário é capaz de revelar diversas ocupações e dinâmicas da cidade complementando métodos de pesquisa tradicionais.

3 Boas notícias

Um dos elementos que podem ser destacados no contexto contemporâneo das cidades é a presença cada vez mais contundente das tecnologias de comunicação e informação, especialmente em relação à veiculação e produção de imagens em decorrência ao acesso a dispositivos portáteis de gravação e redes sociais. Desta constatação, desdobra-se a necessidade de ações que promovam leituras críticas e canais de troca e discussão. Assim, a proposta da disciplina abarca inovação e acesso à informação e conhecimento. O ato de unir programas de pós-graduação distintos, aliando diferentes campos do conhecimento de forma integrada, apresenta-se como um aspecto que deve ser continuado. O uso do audiovisual e do documentário para entender dinâmicas da cidade vai além de seu aspecto de experimentação: ela também se dá em relação à ampliação de métodos de pesquisa, divulgação científica e de conhecimento, extensão acadêmica e estreitamento das relações entre Academia e Sociedade.

A combinação de som e imagem promove não apenas níveis de experimentação, mas configura-se também como uma forma de abordagem à cidade e sua complexidade. O processo de concepção, inserção dos documentaristas em determinado contexto e a presença dos equipamentos alteram as dinâmicas e colocam em jogo outras relações. Dessa maneira, sendo um observador de um dado contexto, o documentarista pode ter elucidações que trazem aproximações e compreensões do que lhe era externo anteriormente, testando também suas próprias fronteiras e refúgios; além disso, a produção audiovisual de documentário também se configura como uma linguagem expressiva e que também é difundida a outros. O audiovisual, e em especial o documentário, traz informações que são difíceis de serem captadas por outros métodos mais clássicos de pesquisa, sendo que o próprio processo de fazer documentário inclui métodos de pesquisa que trazem situações diferentes nas quais o documentarista se insere.

A ampliação dos métodos de pesquisa é necessária tanto no âmbito de pesquisa, para se conseguir captar e compreender dinâmicas que são mais difíceis serem percebidas por outros métodos, quanto no âmbito da divulgação. A latente necessidade de atender divulgação de desenvolvimento científico, bem como promover atividades de extensão acadêmica, podem também ser atendidas através da produção e exibição de documentário, aproximando a comunidade acadêmica com a sociedade.

Ao possibilitar olhares e representações plurais sobre determinados aspectos do mundo, tais usos do documentário se configuram como um respiro ao combater momentos tão difíceis. A busca de compreensão e de entendimento do outro, e o autoexame para situar-se no mundo, ambos promovidos pelo processo do documentário seja em seu processo de realização ou em sua apreciação, são aspectos muito positivos dados por essa prática de representação criativa do mundo. Além disso, a variedade de meios e linguagens é muito preciosa para compor essas representações.

4 Documentários

Os documentários produzidos para disciplina são aqui publicados com a devida autorização de seus realizadores.

Demolições

Realizadores: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos, Yasmin Bidim.

b. Hortalizar

Realizadores: Fernanda Ferrari, Mariah G. Di Stasi, Paulo Mendes.

c. Linha 58

Realizadores: Juliana Trujillo, Luis Jorge Ocasitas, Rafael Baldam, Thiago Rodrigues.

d. Safe Place

Realizadores: Giovanna Consentini, Jéssica Tardivo, Sandra Schmitt Soster.

e. Sexta na Praça

Realizadores: Luciana Roça, Maria Júlia Martins, Varlete Benevente.

Referências

MISSELWITZ, Philipp; ALTAY, Can. Refuge: architectural propositions for unbound spaces. In: RIENIETS, Tim; SINGLER, Jennifer; CHRISTIAANSE, Kees (Ed.). Open City: designing coexistence. Amsterdam: Netherlands Architecture Institute, 2009. p. 220-256.

NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 5ᵃ ed. Campinas: Papirus, 2010.

RAMOS, Natália.; SERAFIM, José Francisco. Cinema documentário, pesquisa e método: desafios para os estudos interdisciplinares. Revista Contracampo, n. 17, p. 163-178. Niterói: UFF, 2007. Disponível em: http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/view/358 . Acesso em: 16 jun. 2015.

À PROPOS de Nice. Direção: Jean Vigo. Gaumont - França, 1930. 22 min. PB, 35 mm. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=24Ti_8c6qjI. Acesso em: 4 mai. 2016.

BERLIM, sinfonia de uma grande cidade (Berlin, die symphonie der groBstadt ). Direção: Walter Ruttmann. Fox Europa Film - Alemanha, 1927. 61 min. PB, 35 mm. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zg353U4QpxA. Acesso em: 4 mai. 2016.

JOGO de cena. Direção: Eduardo Coutinho. Videofilmes / Matizar - Brasil, 2007. 105 min. Color, 35 mm. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=klnANmeeDHs. Acesso em: 20 abr. 2016.

MORRO dos Prazeres. Direção: Maria Augusta Ramos.Nofoco Filmes / Key Docs - Brasil/Holanda, 2013. 57 min. Color, Digital. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ffMX0eN7h5w. Acesso em: 4 mai. 2016.

Documentary and the city: representing fragments, forming views.

Maria Júlia Martins, Luciana Roça

Maria Julia Martins is Pedagogue, MSc in Education, Knowledge, Language and Art and researcher at Nomads.usp. She investigates the field of contemporary arts body and its relationship with the urban public space.

Luciana Santos Roça is a Bachelor of Arts in Image and Sound, Master in Architecture and Urbanism and is a researcher at Nomads.usp. She studies sound interventions in public spaces, seeking to integrate the disciplinary fields of Sound Studies and Architecture.


How to quote this text: Martins, M. J. S.; Roça, L.S, 2016. Documentary and the city: representing fragments, forming views. Translated from Portuguese by Luciana Santos Roça. V!RUS, [e-journal] 13. [online] Available at: <http://143.107.236.240/virus/virus13/?sec=6&item=1&lang=en>. [Accessed: 22 December 2024].


Abstract:

The video documentary enables the formation of understanding and approximations to the cities by being a method of approaching the urban dynamics and also its expression. This article discusses and reflects on the use of audiovisual, in general, and documentary, in particular, as a medium that broadens and contributes to the understanding of the city. Therefore, we bring to this context the results of the short course “Documentary and the city: critical thinking and experimentation”, carried out through a collaboration between the Graduate Program of Architecture and Urbanism, Institute of Architecture and Urbanism, University of São Paulo, and the Graduate Program in Science, Technology and Society, Federal University of São Carlos, under the guidance of Professors Marcelo Tramontano and Arthur Autran, respectively. The documentaries produced by the participants are available for viewing at the end of this article, kindly provided by its filmmakers. By enabling perspectives and representations of the world, the documentary gives support to the understanding of urban dynamics, as well as provides opportunities to rethink the academic work, scientific divulgation and relations between Academy and Society and, finally, to promote a self-examination of the researcher-documentarist by the city.

Keywords:: Documentary, Public space, OuLiPo, Literature, Modern


1 Documentary and city: overview of a proposal

When addressing issues about video documentary some narrative strategies come to mind at first place, conventional and traditional: a voice over, or a narrator making comments, often explanatory or descriptive; interviews; archival footage or pictures; as well as the notion that the presented material corresponds much more to the “real” than a fiction film. However, the variety of documentary’s resources available to perform “representations of the world”, as posited by Nichols (2001), surpasses those strategies that come to mind. As Bill Nichols (2001, p. 21) argues, “documentaries adopt no fixed inventory of techniques, address no one set of issues, display no single set of forms or styles.” The heterogeneity of documentary is noticeable since the first decades of film history, can be perceived in the musicality of the images in Berlin, symphony of a great city, by Walter Ruttmann, or the irreverence of À propos de Nice, by Jean Vigo; in contemporary Brazilian production we can cite documentaries such as the memorable Playing (Jogo de Cena), by Eduardo Coutinho, or Hill of Pleasures (Morro dos Prazeres), by Maria Augusta Ramos.

In addition to its rich and complex audiovisual language, the documentary is a way to think about the city through the discussion of its production, as well as a method to achieve a better understanding of the actions, dynamics and particularities of cities. Thus, the documentary is a method capable of expanding discussions towards the understanding of urban spaces with potential in the academic field. Despite knowledge areas such as Anthropology and Ethnography have been using documentary as a method for decades, Architecture and Urbanism usually do not involve the use of audiovisual and documentary in its classical methods of approaching and interpreting the city. This aspect made the occasion of this course a moment of experimentation and critical discussion, both on urban space and on the documentary narrative itself. In order to consider this discussion, the course “Documentary and the City: Critical Thinking and Experimentation” has as proposal to approach the disciplinary fields of Architecture and Cinema through the relation between city and documentary. The course occurred in the second semester of 2016 and was composed by graduate students from different knowledge areas, mainly related to Social Communication, Cinema and Architecture and Urbanism from both universities, University of São Paulo and Federal University of São Carlos.

The documentary becomes a locus of communication and discussion which has the potential to promote high levels of experimentation, providing information and debates that are difficult to happen while discussing other forms. To the Architecture field, specifically, the approach and dialogue with the Documentary broaden, densify and enrich ways that Architecture and Urbanism already have of record and representation of space with its particular contributions.

By having these aspects in mind, the documentary can be understood as a creative and sensible representation of the world we live in, a research method and also a form of interpreting. In general, the potential of documentary to academic research is to bring contributions to the debate that other forms or more traditional methods have more difficult to bring into discussion. The possibilities brought by the composition of moving images and sonorities extracted from the urban dynamics can produce very expressive audiovisual materials that allow to represent the city and its relations in a complex and sensitive way. They are compositions of tensios, presences, testimonies, actions, feelings, perspectives, perceptions and experimentations that hardly a written text could translate.

The production of documentary enables the representation of a fragment of the world where we live, a possible perspective on a piece of a given reality that presents itself to the public as a critical and reflexive analysis on a certain phenomenon. The importance of the integration of film methodology in several fields of knowledge is recognized, in order to promote comprehension on different contexts and cultures, as Ramos and Serafim (2007) argue.

Thereby, during the course was sought to discuss and analyse how audiovisual can broaden the instruments for interpreting and expressing spaces by aggregating practices, meanings and understandings; not only for Architecture, but also for other fields of knowledge, enabling awareness and empowering the comprehension of a certain theme. It is considered that the approach between two distinct knowledge field enables the constitution of collective works and discussions that feed transdisciplinary methodologies based on diverse theoretical and practical contributions that, in turn, generate powerful production processes and knowledge sharing.

2 Documentaries, aesthetics and urban fragments

The result given by the documentaries accomplished within the scope of the course was heterogeneous due to the represented aspects and urban fragments as well as the different aesthetic choices.

The documentaries can be found at the end of this text, however at the present time is relevant a brief presentation and synopsis of the same. Five documentaries were produced, published here with proper authorization of their filmmakers, presented in alphabetical order:

a Demolitions

Filmmakers: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos, Yasmin Bidim.

Fig. 1: Demolitions. Source: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos and Yasmin Bidim, 2016.

Synopsis: "Demolitions" is a documentary that discusses the use and, very often, the neglect about the old buildings in the cities, specially thoe located in city centres. These buildings are no longer seen for their historical value but rather as land for construction of newer buildings with aggregated value - several demolished houses give space for private parking lots, pharmacies and other commercial buildings.

The dismantled pieces, such as doors and windows, are sold to specialized demolition shops and then build new houses, giving a new use to those pieces of old buildings. You dismantle a city that mounts a new city; the former had a historical value, the latter has commercial value.

b Urban Vegetable Gardens

Filmmakers: Fernanda Ferrari, Mariah G. Di Stasi, Paulo Mendes.

Fig. 2: Urban Vegetable Gardens. Source: Fernanda Ferrari, Mariah Di Stasi, Paulo Mendes, 2016.

Synopsis: Cities are consolidated more and more, increasing its size and density. Cities increase mostly without adequate planning for the quality of life of their inhabitants resulting in spaces without adequate leisure areas and small housing lots. The suffocation caused by this development of urban areas causes a boredom in the population that is demonstrated in several ways.

The documentary Urban Vegetable Gardens presents one side of this demonstration, consolidated by communities and NGOs amid the dissatisfaction with market food and empty urban spaces resulted from real estate speculation, among other factors, forming a refuge.

c Route 58

Filmmakers: Juliana Trujillo, Luis Jorge Ocasitas, Rafael Baldam, Thiago Rodrigues.

Fig. 3: Route 58. Source: Juliana Trujillo, Luis Jorge Ocasitas, Rafael Baldam, Thiago Rodrigues, 2016.

Synopsis: Hop on a bus, cross the urban density and hop off at your destination. What city exists between the start and the end of this route? Or how many cities exist? The last stop is far away, it is the goal of those who work far from home, who devote hours of their day to overcome space and time of this path. The bus, the transportation, gathers, crowds, stops, it is insufficient. Moving throughout the city involves choices and needs; the user’s view is superimposed on the municipal transportation system. The tension is imminent.

Observe the city through the camera lenses enables us to capture in details the experience of different agents that coexist in this system, making possible to record unpredictable actions that emerge from the relationship among them.

d Safe Place

Filmmakers: Giovanna Consentini, Jéssica Tardivo, Sandra Schmitt Soster.

Fig. 4.: Safe Place. Source: Giovanna Consentini, Jéssica Tardivo, Sandra Schmitt Soster, 2016.

Synopsis: Safe Place depicts sexual harassment situation in enclosed condominium environments, places usually considered safe compared to other residential models. To what extend a space, constructed and sold as a refuge, is really a refuge? To be imprisoned in a urban fragment, isolated, walled and extremely guarded is to take refuge from the evils of contemporary society?

e Friday at the square

Filmmakers: Luciana Roça, Maria Júlia Martins, Varlete Benevente.

Fig. 5.: Friday at the square. Source: Luciana Roça, Maria Júlia Martins, Varlete Benevente, 2016.

Synopsis: At the “Pigeons’ Square” in São Carlos, São Paulo State, many teenagers from different peripheral neighborhoods hang out on Fridays. The square becomes a temporary refuge in which young people create opportunities for socialization and entertainment in public space, a space very often denied to low income citizens in the peripheries.

By this brief presentation given by the synopsis it is possible to verify the diversity of themes and ways of approach. Such diversity was one of the course goals, corresponded by the participants.

Many aspects of the city was considered by the proposal of the theme “refuge” as mentioned by the authors Can Altay and Philipp Misselwitz (2009). The word, which has as common concept the impression of a safe place, is brought by its etymology that leads to a backward, retreat, escape from something that one wants to avoid. The authors (idem.) identify three common aspects in all refuges: a unsolved conflict, which causes a voluntary or forced displacement, such as expulsion or escape of aggression; spaces of refuge are settled by a border which clearly divides and alienates a certain territory, whether through physical or symbolic barriers; and, finally, refuges have their functioning marked by the suspension of existing rules, either spontaneously or compulsory. This concept of refuge does not regard a pessimism but leads to a different key of interpreting in which positive or negative aspects of the city can be understood.

The documentaries brought to discussion distinct aspects of the dynamics of São Carlos in which the notion presented by the cited authors of refuge can be observed. The topics discussed in the videos could be analyzed and debated among the participants.

When we film in cultural contexts and social environments different from those of the researcher it is necessary to fight against the stereotypes and preconceived ideas and develop an attitude of self-criticism. (Ramos, Serafim, 2007)

In addition to expanding urban debates, this exercise made possible the reflection and experimentation of different ways of making documentaries. As a result we have accomplished documentaries that presented varied aesthetic choices that allowed discussions on the potentialities and limits that these choices can offer regarding to what one wishes to communicate and present.

Another discussion that deserves to be noticed and was reported by the participants regards the experiences and exchanges carried out throughout the course, as well as the importance of the process of documentary’s production and its impact in their perceptions and practices as researchers-documentarists. Moreover, the filmmakers’ recordings were permeated with surprises and unforeseen happenings, so the filmmakers found themselves faced with new actions that were not in the script. Therefore the filmmakers had to be resourceful and have skills to combine unexpected actions with their conception of documentary, understanding unexpected attitudes and also inserting it into their production.

According to the participants the field work for the recording of images and sounds was considered a quite rich situation of exchange of knowledge and information with the agents of their themes. Meeting the “others”, the alterity present in the field experience produces tensions and reconfigurations in the researchers’ conceptual limits, stimulating understandings that would not be possible without meeting and sharing with the local agents.

In the field, the researcher encounters unexpected elements and situation that were not thought in the initial script, meets characters and decipher stories that belong to the universe of the city and record fragments of such complexity and variety of urban dynamics. By distancing themselves to elaborate an analysis and establish a montage, the documentarists elaborate an audiovisual discourse composed by their views and by what was found in the field. Within this perspective, the documentarist is not neutral when forming a representation of the world.

The documentaries were also perceived by the filmmakers as a powerful instrument to raise awareness and publicize a certain issue since the documentary is capable to reveal diverse occupations and dynamics of the city, complementing traditional research methods.

3 Good news

An element that can be highlighted in contemporary context of the cities is the increasingly strong presence of information and communication technologies at many levels, especially those related to production and broadcast of videos due to the access of portable recording devices and social media. This demonstrates the need of actions that promotes critical thinking and opportunities for sharing and discussion. Therefore, the course’s proposal covers innovation and access to information and knowledge. The act of gathering distinct graduate programs, combining different knowledge areas in an integrated way is an aspect that must be continued. The use of audiovisual and documentary to understand the dynamics of the city goes beyond its aspect of experimentation: it also is an expansion of research methods, dissemination of science, academic extension that brings closer relations between Academy and Society.

The combination of sound and image not only promotes levels of experimentation but is also a way of approaching the city and its complexity. The process of conception and inclusion of documentarists in a given context, the presence of technical equipment change the dynamics and bring other relations into play. Thus, being an observer of a certain context, the researcher-documentarist may have elucidations that bring approximations and understandings of what it was external to her/him at a first moment, also testing her/his own borders and refuges. In addition to this, the audiovisual production of documentary is also configured as an expressive language which is diffused to others. The audiovisual, especially documentary, introduce informations that is difficult to grasp by other more classic methods of research. The process of making a documentary itself includes research methods that carry distinct situation in which the documentarist is included.

Broadening research methods is necessary both in the research scope, in order to capture and understand dynamics that are more difficult to be perceived by other methods, as well as in the scope of dissemination. The latent need to meet dissemination of scientific development, as well as promoting academic extension activities can be promoted by the production and display of videos and documentary, bringing the academic community closer to society.

By forming views and enabling plural representations about various aspects of the world, such uses of the documentary act as a respite to combat such hard times. The pursuit of comprehension and understanding the other one and the self-examination to situate oneself in the world, both promoted by the process of production of a documentary or its appreciation, are very positive aspects given by this practice of creative representation of the world. Furthermore, the variety of media and languages is very precious to compose these representations.

4 Documentaries

The documentaries produced for the course are available here with due permission from their filmmakers. English subtitles can be found in the videos.

Demolitions

Filmmakers: Nayara Benatti, Tássia Vasconselos, Yasmin Bidim.

b. Urban Vegetable Gardens

Filmmakers: Fernanda Ferrari, Mariah G. Di Stasi, Paulo Mendes.

c. Route 58

Filmmakers: Juliana Trujillo, Luis Jorge Ocasitas, Rafael Baldam, Thiago Rodrigues.

d. Safe Place

Filmmakers: Giovanna Consentini, Jéssica Tardivo, Sandra Schmitt Soster.

e. Friday at the square

Filmmakers: Luciana Roça, Maria Júlia Martins, Varlete Benevente.

References

Misselwitz, P.; Altay, C., 2009. Refuge: architectural propositions for unbound spaces. In: Rieniets, T.; Singler, J.; Christiaanse, K., ed., 2009. Open City: designing coexistence. Amsterdam: Netherlands Architecture Institute, pp.220-256.

Nichols, B., 2001. Introduction to documentary. Indiana University Press.

Ramos, N.; Serafim, J. F., 2007. Cinema documentário, pesquisa e método: desafios para os estudos interdisciplinares. Revista Contracampo, 17, pp.163-178. Niterói: UFF, 2007. Available at <http://www.contracampo.uff.br/index.php/revista/article/view/358 > (Accessed: 16 June 2016).

À propos de Nice (1930) Directed by Jean Vigo [Film]. France.

Berlin, Symphony of a Great City (1927) Directed by Walter Ruttman [Film]. Germany.

Playing (2007) Directed by Eduardo Coutinho [Film]. Brazil: Videofilmes/Matizar.

Hill of Pleasures (2013) Directed by Maria Augusta Ramos. Brazil/Netherlands: Nofoco Filmes, Key Docs.